
Os três conselhos
O Presidente Thomas S. Monson foi chamado para servir como Bispo aos 22 anos de idade. Em sua biografia está escrito: “Qualquer homem, (…) ficaria intimidado ao ser chamado Bispo aos 22 anos, especialmente quando a ala tinha 1.080 membros, incluindo 84 viúvas. Mas o Bispo Monson não perdeu tempo; ele orou e foi ao trabalho. Ele serviu, amou, fortaleceu as pessoas; era seu dever, mas também o curso ditado por seu coração”.1ChurchOfJesusChrist.org, Profetas e Apóstolos, “Thomas S. Monson, Presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”
Sendo jovem, Presidente Monson sabia que, para servir bem, precisaria se aconselhar com homens experientes e de confiança. E ele o fez! Nesta nossa época, em que tantos jovens se consideram tão cheios de conhecimento e discernimento ao ponto de não precisarem de conselhos, e que tantos adultos experientes se enchem de soberba pelo conhecimento que de fato possuem e, por isso, também dispensam conselhos, saber que um jovem de apenas 22 anos buscou conselhos para o seu chamado é algo inspirador.
O próprio Presidente Monson relatou: “Quando eu era adolescente, meu Presidente de Estaca era Paul C. Child. Quando fui chamado para ser Bispo, fui conversar com ele e perguntei: ‘Presidente Child, como antigo Bispo e Presidente de Estaca, que conselho tem para mim?’ Ele pensou um pouco e então disse: ‘Sugiro três coisas. Primeiro, cuide dos pobres. Segundo, não tenha favoritismos. E terceiro, não tolere nenhuma iniquidade'”.2Presidente Thomas S. Monson, Treinamento Mundial de Junho de 2004
Acredito que estes três conselhos são úteis não apenas aos bispos, mas a todos os Santos dos Últimos Dias ao servirem em seu ministério pessoal ou em seu ministério formal. Gostaria de abordar cada um deles.
Cuide dos pobres
O cuidado dos pobres tem sido um dos principais mandamentos do Senhor ao seu povo em todos os tempos. Nenhum Santo dos Últimos Dias pode dormir em paz, sabendo que um irmão seu sofre com fome ou qualquer outra necessidade básica que ele possa suprir, mas que deixou de fazê-lo por egoísmo. “O que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, ele também clamará e não será ouvido,”3Provérbios 21:13 disse o autor de Provérbios.
O Élder Jeffrey R. Holland disse: “Nos dias atuais, a Igreja restaurada de Jesus Cristo ainda não tinha completado um ano quando o Senhor ordenou aos membros: ‘Eles cuidarão dos pobres e necessitados e ministrar-lhes-ão auxílio para que não sofram’4Doutrina e Convênios 38:35. Notem que o sentido é imperativo — ‘para que não sofram’. Essa é a linguagem que Deus usa quando está falando sério”.5Élder Jeffrey R. Holland, “Não Somos Todos Mendigos?”, Conferência Geral, outubro de 2014
O Rei Benjamin perguntou: “Pois eis que não somos todos mendigos? Não dependemos todos do mesmo Ser, sim, de Deus, para obter todos os bens que temos, tanto alimentos como vestimentas e ouro e prata e todas as riquezas de toda espécie que possuímos?”6Mosias 4:19 Sim, somos todos dependentes do Senhor e todas as coisas que possuímos vieram e são Dele. Portanto, não é sequer razoável negar a um necessitado aquilo que ele necessita.
Ao ver todo o sofrimento de milhares de refugiados que tentam sobreviver distantes das guerras, da fome e da miséria causadas por governantes injustos, e o tratamento insensível e mesmo desumano que têm recebido em alguns lugares para onde decidem ir à procura de descanso, penso na época em que os Santos dos Últimos Dias foram refugiados, de estado em estado dos Estados Unidos, em busca de um lugar que os acolhesse com bondade, compreensão e aceitação. Penso também em muitos entre nós, que são como “refugiados”, de tentativa em tentativa de escapar de sua condição de pobreza material e espiritual. Penso sobre como procuram ao Senhor Jesus Cristo, por meio de Sua Igreja, em busca de abrigo e conforto para seus corpos e almas cansados das dores do mundo, e sobre como devemos recebê-los, compreendendo suas limitações espirituais, às vezes potencializadas por suas limitações materiais, seus sofrimentos e rejeições. Só quem nunca teve fome, sem ter o que comer, acha que se pode dar religião antes de dar um pedaço de pão ao faminto. Ou que se pode condicionar a ajuda humanitária ao viver espiritual. Como ensinou o Élder Joseph B. Wirthlin, “não perguntamos: ‘Vocês são da Igreja?’ Nossa pergunta é: ‘Estão sofrendo?’”7Élder Joseph B. Wirthlin, “O Inspirado Programa de Bem-Estar da Igreja”, Conferência Geral, abril de 1999 Devemos ter a sensibilidade necessária para ajudarmos a todos os que procuram refúgio da dores do mundo, em nosso meio. Parafraseando o Rei Benjamin, “não somos todos refugiados?”
Há um outro aspecto no cuidado dos pobres, com o qual devemos ter atenção especial. Trata-se da discriminação por causa da condição financeira ou educacional. Embora este tipo de discriminação seja crime, sabemos que, infelizmente, ainda existe, de forma velada, em nossa sociedade. Este tipo de comportamento não pode partir de um membro da Igreja, em nenhuma hipótese! Que ninguém jamais se sinta inferior, em nenhum aspecto, por estar ao nosso lado. Nosso dever é o de elevar as pessoas, não diminuí-las. Se há alguém que se considere superior a outra pessoa devido à sua condição financeira, e que use isto contra esta pessoa, ainda que de forma velada e sutil, deve saber que o Senhor certamente não terá por inocente quem agir assim com seus irmãos.
Um dos mais terríveis exemplos desse comportamento é alguém se recusar, em seu íntimo, ser liderado na Igreja por um “menor” que ele, financeiramente ou educacionalmente falando. Quem pensa e age dessa forma, não crê realmente no caráter sagrado dos chamados eclesiásticos. O autor de Provérbios ensinou: “O que oprime o pobre insulta aquele que o criou, mas o que o honra se compadece do necessitado”.8Provérbios 14:31
Não tenha favoritismos
Quando um líder é chamado, especialmente um Bispo ou um Presidente de Estaca, todos esperamos que ele não tenha favoritos. E este é um desejo justo. Quem ocupa uma posição na Igreja não pode ter favoritos. No favoritismo, a predileção predomina sobre a igualdade. No ministério das coisas do Senhor, não há lugar para preferências pessoais. “Deus não faz acepção de pessoas”9Atos 10:34 e “Porém, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois condenados pela lei como transgressores”10Tiago 2:9 são escrituras que não deixam dúvidas quanto à posição do Senhor a esse respeito. Quero deixar claro que, quando falo de favoritismo, não me refiro à afinidade ou amizade mais próxima que pode haver entre dois ou mais irmãos. Cada pessoa tem o direito de relacionar-se mais proximamente com quem desejar e convidar para almoçar na sua casa a quem quiser, e isto não significa favoritismo, ao menos não no sentido em que está sendo empregado aqui.
Agora, se um membro espera que o seu líder não tenha favoritos entre todos os irmãos, não é justo esperar que este mesmo membro também não tenha favoritos na liderança? Infelizmente, não é raro encontrarmos membros que não aceitam conselhos ou a liderança de um determinado irmão ou irmã, mas apenas deste ou daquele seu líder favorito. E, assim, perdem a oportunidade de serem ministrados por todos os servos escolhidos pelo Senhor, porque querem ser ministrados apenas pelos que eles mesmos escolheram. Esta rejeição à liderança de alguém pode se dar por diversos motivos, mas a experiência tem mostrado que o orgulho é o principal deles.
Outra versão do problema do favoritismo se dá não por causa da pessoa, mas do chamado dela ou do que este chamado representa. Um exemplo disso é o que normalmente ocorre com os Bispos. Todos sabemos que ele é um homem que tem muitas ocupações e preocupações. Ele tem responsabilidades específicas na ministração e na administração dos assuntos da ala. Algumas destas responsabilidades não podem ser delegadas, o que toma ainda mais do seu tempo e atenção. Porém, todo o restante deve ser delegado aos seus conselheiros e secretários. Além destes irmãos, existem ainda outros líderes, como os presidentes das organizações e os presidentes dos quóruns do sacerdócio, que também recebem delegação do Bispo para agir nas coisas do Senhor.
Sempre que você precisar de algum tipo de ajuda ou aconselhamento, deve se perguntar: “Honestamente, este é um caso que necessita realmente da ação do Bispo?” Se a resposta for “Sim”, então você deve procurá-lo. Se a resposta for “Não”, procure o seu presidente de quórum ou de organização. Se ele ou ela não puder resolver, um conselheiro no bispado será acionado. O assunto somente chegará ao Bispo se não for resolvido nestas duas primeiras instâncias.
Infelizmente, ao contrário deste modelo, há muitos que desejam que seus assuntos sejam somente resolvidos diretamente com o Bispo. E a maior motivação para isso é o orgulho, que os faz sentirem-se importantes porque tiveram o seu caso resolvido por quem “manda”. É preciso respeitar todos os que foram chamados, sem favoritismos de nenhum tipo. Isto vale em qualquer nível de liderança na Igreja. O que preside tem dois conselheiros. Devemos respeitá-los e apoiá-los como líderes que são.
O Senhor declarou qual é o ministério do Bispo: “(…) julgar (…) [o] povo pelo testemunho dos justos e com a assistência de seus conselheiros, de acordo com as leis do reino, que são dadas pelos profetas de Deus”.11D&C 58:18
A indicação “com a assistência de seus conselheiros” dá a estes homens uma responsabilidade muito grande, de auxiliarem o Bispo em seu papel como Juiz Comum em Israel. Os conselheiros do Bispo possuem a autoridade para aconselhá-lo e também ao povo da Igreja. Podem agir, por delegação do Bispo, como juízes, para julgarem se um irmão poderá ser recomendado para ir ao templo, por exemplo. O modelo de presidência do Senhor, sempre com três pessoas servindo juntas, é algo maravilhoso e que tem protegido a Igreja.
Posso afirmar, sem medo de errar: no que diz respeito a uma presidência, seja ela uma Presidência de Estaca, um Bispado, uma Presidência de Quórum de Élderes ou da Sociedade de Socorro, ou de qualquer outra organização ou quórum da Igreja, ou confiamos nos três, ou não estaremos confiando em nenhum!
Há outra questão a esse respeito. Antes, eu disse que não devemos ter favoritos na liderança. Também é importante não termos favoritos para a liderança.
Infelizmente, quase sempre que se sabe que um novo irmão será chamado para presidir uma ala ou uma estaca, ou uma organização ou quórum, ocorre um rumor especulativo, com a grande pergunta circulando nas rodas de conversas: “Quem será chamado?” E então alguém dispara: “Eu acho que será fulano!”, ou “Eu tenho certeza de que será beltrano!” Não bastasse o grande mal que esta prática terrível causa nos testemunhos de muitos sobre o divino processo de sucessão nas posições de liderança na Igreja, há um comentário ainda pior: “Eu espero que seja sicrano!”
O favoritismo para a liderança talvez seja ainda mais pernicioso que o favoritismo na liderança. Isto porque, quem age assim, com esse tipo de favoritismo, escolhe a quem o Senhor não escolheu. E almeja que seja chamado aquele a quem o Senhor não chamou. Associado a este erro sempre está um outro, também terrível: a rejeição ao servo escolhido e chamado pelo Senhor para ser o verdadeiro ministro daquela parte da obra. Além de cometer estes erros tão grandes, o culpado desta prática pode cometer ainda outro: levar o tal irmão, seu favorito, a ter o mesmo pensamento e desejo, e a julgar-se melhor do que aquele a quem o Senhor de fato ungiu para aquele chamado, e almejar aquela posição que é – por direito divino – de outro. Qualquer argumento para justificar tal comportamento provém do inimigo. Inveja, cobiça, soberba e orgulho são os sentimentos que afloram deste tipo de pensamento. Fuja deles!
Você respeita, honra e é um apoio com suas palavras e ações àqueles a quem o Senhor colocou em todas as posições no reino, ou você declara por palavras e ações que tem preferidos pessoais seus para certas posições e age na tentativa de enfraquecer e desqualificar quem não está na sua lista de favoritos? Esta é uma pergunta muito importante, que cada um deve fazer a si mesmo e responder com total sinceridade.
Não tolere nenhuma iniquidade
O Guia para Estudo das Escrituras define assim a iniquidade: “Ser desobediente aos mandamentos de Deus”.12Guia para Estudo das Escrituras, “Iniquidade, Iníquo” A desobediência é a ação deliberada contra a vontade e a ordem do Senhor. Ele ama o pecador, mas não o pecado: “Pois eu, o Senhor, não posso encarar o pecado com o mínimo grau de tolerância”.13Doutrina e Convênios 1:31 Se o Senhor, a quem devemos seguir e imitar, não tolera a iniquidade, por que devemos tolerá-la? Não devemos! Devemos, sim, eliminá-la de nossas vidas. Evidentemente, precisamos cuidar para que, ao eliminarmos o pecado, não eliminemos também o pecador. O pecador – eu, você e qualquer outro – merece compaixão, bondade, amor e compreensão. Nosso propósito, ao buscar eliminar a iniquidade, deve ser o de transformar a todos em homens e mulheres dignos.
O Guia para Estudo das Escrituras define assim o ser digno: “Ser pessoalmente reto e ser aprovado diante de Deus e de Seus servos designados”.14Guia para Estudo das Escrituras, “Dignidade, Digno” “Ser aprovado diante de Deus e de Seus servos designados”. Que coisa maravilhosa! O Senhor providenciou servos designados para nos ajudar a eliminar a iniquidade de nossas vidas. Isto deve ser encarado como uma bênção especial! Não se irrite com os “servos designados” porque eles pregam a verdade e o arrependimento. Eles são amigos, não inimigos!
Não tolere a iniquidade! Ao ter a consciência do pecado, tire-o da sua vida imediatamente. Não racionalize. Não flerte com o pecado. Não dê nem mesmo uma mísera brecha ao inimigo, pois poderá ser o suficiente para que ele entre e faça morada na sua alma. Cuidado com as armadilhas! O inimigo de nossas almas as espalha pelo caminho. Olhe bem por onde anda, em que terreno pisa, com o cuidado de um soldado em um campo minado de guerra. “Estamos em guerra — uma continuação daquela que começou no mundo pré-mortal”.15Presidente M. Russell Ballard, Devocional da Ensign College, 3 de novembro de 2020 Não permita que pseudoamizades, ou que sentimentos de apego a costumes e tradições pessoais errôneas, levem a sua vida a um rumo contrário ao verdadeiro caminho, que é Jesus Cristo. Cuidado com a permissividade, com o uso errado do arbítrio e da liberdade.
Ao servir em seu ministério pessoal ou em seu ministério formal, não importa, saiba que ambos lhe foram designados pelo Senhor. Faça o seu melhor! Siga os três conselhos recebidos, seguidos e ensinados pelo Presidente Monson. São conselhos sábios!
Referências
1 | ChurchOfJesusChrist.org, Profetas e Apóstolos, “Thomas S. Monson, Presidente de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” |
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2 | Presidente Thomas S. Monson, Treinamento Mundial de Junho de 2004 |
3 | Provérbios 21:13 |
4 | Doutrina e Convênios 38:35 |
5 | Élder Jeffrey R. Holland, “Não Somos Todos Mendigos?”, Conferência Geral, outubro de 2014 |
6 | Mosias 4:19 |
7 | Élder Joseph B. Wirthlin, “O Inspirado Programa de Bem-Estar da Igreja”, Conferência Geral, abril de 1999 |
8 | Provérbios 14:31 |
9 | Atos 10:34 |
10 | Tiago 2:9 |
11 | D&C 58:18 |
12 | Guia para Estudo das Escrituras, “Iniquidade, Iníquo” |
13 | Doutrina e Convênios 1:31 |
14 | Guia para Estudo das Escrituras, “Dignidade, Digno” |
15 | Presidente M. Russell Ballard, Devocional da Ensign College, 3 de novembro de 2020 |
