
Mudar de país: uma experiência em família
Enviado por Alesanco Calíope, de Salt Lake City, Utah
Mudança: troca de um lugar (país, região, residência, etc.) para outro.
Essa definição encontrada em um dicionário corresponde exatamente ao que aconteceu comigo e minha família em meados de 2017. Contudo, a decisão de mudar de pais começou bem antes.
No ano de 2015 começamos a discutir sobre a possibilidade de mudarmos de pais. Naquela época, estávamos preocupados com situação do Brasil. Os índices de violência aumentando diariamente, em nossa cidade Fortaleza especialmente, os problemas da corrupção politica, economia fracassada, e dificuldade financeira generalizada. Em nossa Estaca, por exemplo, era comum nos depararmos com membros desempregados, entre outros desafios. Então, após levantarmos esses fatores e em espírito de oração, tomamos a decisão. Vamos nos mudar! Mas… para onde? Como? Quando? O que precisamos fazer? Quais os desafios que vamos encontrar? E vantagens, existem? Depois de conversar com vários amigos que moravam no Estado de Utah, nos Estados Unidos, sentimos que o destino seria a América, sim os Estados Unidos da América, mais especificamente para Utah, o principal centro de força de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, da qual eu e minha família somos membros.
Depois da decisão tomada, iniciamos um caminho de preparação que envolveria documentação, permissão, vistos, tipo de status, recursos financeiros e, na minha opinião, o item mais importante: a preparação emocional. Detalharei esse último talvez em uma outra postagem, pois ele merece grande atenção e detalhes.
Então, no final do ano de 2015, tiramos os passaportes, o primeiro passo em busca do nosso objetivo familiar. Resolvemos que no ano seguinte (2016) iriamos nos dedicar à preparação financeira, afinal, mudar de pais requer muitos recursos, diferente de uma mudança de bairro ou algo semelhante. Fizemos metas de economizar, cortar gastos, abrir mão de algumas opções de lazer, entre outras iniciativas. Então, no início de 2017, chegamos à reta final da primeira parte de nossa grande mudança. Escolhemos vir para os EUA com o status de estudante, pois, futuramente, com a esperança de que nosso país irá se recuperar, uma certificação internacional certamente fará com que novas portas possam ser abertas. Mas, antes de uma faculdade americana, uma escola de imersão no idioma inglês para estudantes internacionais. Fizemos a aplicação para a escola que escolhemos em Salt Lake City. Depois que fomos aceitos pela escola, passamos para o próximo passo, que, para nós, era o mais tenso: a obtenção do visto no consulado norte-americano. Foi uma longa viagem de carro de Fortaleza a Recife, onde se situava o consulado mais próximo. Lembro-me que a tensão era imensa, quase não existia dialogo nas longas doze horas de estrada, devido à preocupação com possibilidade de termos o visto negado. No dia da entrevista com o representante do governo dos EUA, estávamos já há quase dois anos nos preparando, muitas coisas foram feitas para chegarmos àquele momento e a possibilidade de não conseguirmos a autorização realmente incomodava muito. Felizmente, tivemos sucesso na entrevista e os vistos para estudarmos e morarmos nos EUA foram aprovados. Que benção! Não tenho dúvidas, pela forma como tudo ocorreu, que houve intervenção divina neste processo, que o Senhor nos concedeu isso de alguma forma e nos ajudou a conseguir a autorização.
Isso ocorreu em junho de 2017 e, depois desse momento, iniciamos uma contagem regressiva, dolorosa, pois agora estávamos em um processo real de mudança e esses processos sempre vêm acompanhados de despedidas que nunca são fáceis. Despedidas dos familiares, dos amigos, dos membros da Ala e da Estaca, dos colegas de trabalho, dos vizinhos que nos viram crescer, enfim, mesmo para nós, que já havíamos passado algo assim quando deixamos a querida cidade de Aracaju depois de morarmos lá por cinco anos e termos dois filhos nascidos naquela bela terra, passarmos por isso novamente não foi fácil, mas foi necessário, mais uma vez.
Então, no dia 18 de agosto de 2017, chegamos a Salt Lake City para iniciarmos um novo capítulo no livro da história da nossa família, uma jornada de incertezas, de preocupações, receios, mas também de confiança e esperanças. Estávamos dando o famoso “salto da fé”. Essa mudança realmente tem transformado nossas vidas, nossa forma de ver algumas coisas, presenciar a observância de princípios morais e éticos que pensamos já não existir, mas que existem sim e que, quando são vividos, fazem grande diferença em uma sociedade.
Mudar. Mudamos e continuamos mudando. Existem muitos aspectos que fazem parte desse tipo de mudança, existem muitos desafios, as mudanças exigem coisas de nós que às vezes são difíceis de aceitar, que às vezes parecem que não conseguiremos alcançar, mas, com perseverança, paciência e confiança no Pai Celestial, nós conseguimos.
Mudamos, e nesse pouco mais de um ano morando em Utah, é possível fazer uma análise um pouco mais detalhada do que realmente significa mudar de pais, mudar de cultura, de idioma, de hábitos, de culinária e de muitas outras coisas. Na verdade, essa mudança não acabou ainda, ela acontece diariamente e vem acompanhada de muitos aspectos que nem sempre são vistos nas fotos ou publicações nas redes sociais. Mas esses são pontos para um novo capítulo. Sim, mudamos! E tem sido uma experiência incrível!