
Cinco ocasiões históricas em que catástrofes mundiais influenciaram a obra da Igreja
Nas últimas semanas, temos observado o desenrolar dos efeitos mundiais do COVID-19, em vários aspectos, e seu impacto no andamento de toda a obra desenvolvida por A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias em todo o mundo. O fechamento de todos os edifícios de adoração, incluindo todos os templos, a repatriação dos missionários que serviam em países estrangeiros e a determinação para que os membros da Igreja abriguem-se e continuem partilhando do sacramento no lar são apenas os aspectos visíveis da transformação tão forte quanto repentina pela qual a Igreja tem passado nestes tempos incertos.
Uma convicção, porém, os Santos dos Últimos Dias fiéis possuem: Embora todo este cenário seja uma surpresa para todos nós, ele não o é para Aquele que possui todo o conhecimento do passado, do presente e do futuro: o Senhor! Ele tem o controle de todos os eventos deste mundo, de nossas vidas e de Sua Igreja, e não permitirá que algo ocorra que não seja revertido em benefício para Sua obra, Sua Igreja e Seu povo. Podemos observar esta verdade ao longo da história, quando eventos que poderiam ter determinado o atraso ou mesmo o fim da obra do Senhor ou de Seus servos, foram, na realidade, impulsionadores que levaram a Igreja como instituição e como povo muito além!
Neste artigo, são apresentados cinco – entre muitos existentes – momentos da história nos quais desafios imensos ajudaram, de algum modo, a obra do Senhor. Em nossos dias, certamente não será diferente. Talvez não consigamos enxergar todo o cenário agora, em meio a toda a confusão que temos passado. Porém, podemos confiar no Senhor e em Seu profeta, de que tudo ficará bem, no final.

Como a erupção de um vulcão na Indonésia influenciou a mudança da família Smith para a região onde estavam escondidas as placas de ouro que deram origem ao Livro de Mórmon.
Em 1815, o vulcão Tambora, da ilha indonésia de Sumbawa, explodiu, expelindo três jatos de fogo ardente. Por semanas, o vulcão expeliu cinzas, pedras e lava. “Nos meses seguintes, os efeitos da erupção foram sentidos em todo o globo. Ainda que espetaculares pores do sol impressionassem observadores no mundo todo, as cores vibrantes escondiam os efeitos mortais da cinza do vulcão, que se espalhou pela Terra e tornou o clima imprevisível e devastador no ano seguinte. Na Índia, por exemplo, a erupção fez com que a temperatura caísse e a cólera se propagasse, matando milhares e destruindo famílias. Nos férteis vales chineses, o costumeiro clima ameno de verão foi substituído por nevascas e chuvas copiosas que destruíram as colheitas. Na Europa, a escassez de alimentos e provisões levou à fome e ao pânico. (…)”
“A erupção do Tambora continuou a afetar o clima na América do Norte durante o ano seguinte, com o fim da primavera trazendo neve e geadas mortais, tanto que 1816 entrou para a história como o ano sem verão. Aquele revés foi mais uma causa de frustração para um fazendeiro chamado Joseph Smith Sr., de Vermont, no nordeste dos Estados Unidos, que já vinha sofrendo havia anos por causa do solo rochoso da região. Entretanto, naquele ano, ele e a esposa, Lucy Mack Smith, ao observarem suas lavouras perecerem sob as repetidas geadas, souberam que enfrentariam a ruína financeira e um futuro incerto se ficassem onde estavam. (…) Com a certeza de que poderiam contar uns com os outros, a família Smith decidiu abandonar sua casa em Vermont a fim de se estabelecer em uma terra melhor. Assim como muitos de seus vizinhos, Joseph Sr. decidiu viajar para o sudeste do Estado de Nova York, onde esperava comprar uma boa fazenda a crédito, e depois mandaria uma mensagem a Lucy e aos filhos para que a família pudesse se reunir novamente e começar tudo de novo. (…) Foi assim que Joseph Jr., (…) sua mãe, seus irmãos e suas irmãs [se mudaram para] uma vila chamada Palmyra, (..) onde seu pai os aguardava.”
Santos, O Estandarte da Verdade, 1815 – 1846, Volume 1, Capítulo 1, “Pedir com fé”

Como a Primeira Guerra Mundial e a pandemia da gripe espanhola podem ter influenciado as reflexões do Presidente Joseph F. Smith, que o prepararam para receber a revelação atualmente conhecida como a Seção 138 de Doutrina e Convênios.
“Em (…) 1918, a Grande Guerra (Primeira Guerra Mundial) estava chegando ao final, deixando em seu rastro carnificina e devastação inimagináveis, e uma pandemia de gripe estava fazendo milhões de vítimas. Para o Presidente [Joseph F.] Smith, foi uma época de grande dor pessoal além do sofrimento pelo que ocorria no mundo. Essas catástrofes se tornaram evidentes na conferência geral de outubro. A frequência diminuiu visivelmente: ‘porque muitos dos portadores do sacerdócio estavam ausentes devido à guerra’. A crescente pandemia de gripe também manteve as pessoas em casa. Reunindo as forças que lhe restavam, o Presidente Smith apareceu de surpresa e presidiu as quatro sessões da conferência. ‘Estou sob o cerco de várias doenças graves nos últimos cinco meses’, disse ele em sua mensagem de abertura. ‘Apesar de estar com o corpo um pouco enfraquecido’, ele afirmou, ‘minha mente está lúcida em relação ao meu dever’. Então o Presidente Smith fez alusão à mensagem cujas palavras ele ainda lutava para encontrar. ‘Não vou, não ouso, tentar entrar nos muitos assuntos que estão em minha mente nesta manhã’, disse ele, ‘e vou adiar por algum tempo, de acordo com a vontade do Senhor, minha intenção de dizer a vocês algumas das coisas que estão em minha mente e que habitam meu coração’.”
“Os comentários do Presidente Smith sem dúvidas se referiam em parte aos eventos do dia anterior, 3 de outubro de 1918, quando ele tinha tido a memorável visão da visita do Salvador ao mundo espiritual (agora registrada em Doutrina e Convênios 138). Nessa visão, o Presidente Smith viu ‘as hostes dos mortos’ aguardando a chegada do Salvador. (…) O desejo do Presidente Smith de falar dessas coisas pessoalmente para os santos não se cumpriu. Dez dias após a conferência geral, ele ditou a visão para seu filho Joseph Fielding Smith. Duas semanas depois, em 31 de outubro, Joseph Fielding Smith leu o texto para a Primeira Presidência e para o Quórum dos Doze Apóstolos na reunião normal de conselho no templo. Fui ‘plenamente endossado por todos os irmãos’ registrou, e eles fizeram planos para publicá-la [em] dezembro. (…) Em 19 de novembro de 1918, o Presidente Joseph F. Smith faleceu.”
Lisa Olsen Tait, “Susa Young Gates e a Visão da Redenção dos Mortos”, Revelações em contexto

Como a gripe espanhola influenciou no modo como é realizada a distribuição do sacramento.
“Desde sua organização em 1830 até o início de 1900, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias administrou o sacramento em um copo comum, uma prática que os primeiros santos dos últimos dias haviam adotado de seus antecedentes protestantes. Acredita-se que o uso de um único copo estivesse fundamentado no Novo Testamento, no qual Jesus ordenou que seus discípulos bebessem do “copo” durante a Última Ceia (Mateus 26:27). Havia também um belo tipo de simbolismo por trás do compartilhamento de um copo, pois todos os frequentadores da Igreja tomavam o mesmo cálice, independentemente de raça, classe, gênero e idade.”
“Alguém poderia argumentar que o cálice comum refletia um senso de união, acordo e igualdade entre os que estão no corpo de Cristo. Mas, além dos contextos religiosos, compartilhar uma xícara era uma prática comum na América do século XIX. Bebedouros em escolas públicas, parques e vagões de trem geralmente vinham com uma xícara ou concha acorrentada na qual todos colocavam seus lábios. (…) Em 1912, uma orientação da Junta de Saúde do Estado de Utah, combinada com um crescente consenso entre os santos dos últimos dias de abandonar o copo comum, levou à adoção de copos individuais de sacramento na Igreja. Em 21 de março de 1912, a Primeira Presidência emitiu uma carta aos presidentes de estaca com uma diretiva para fazer a mudança. No entanto, como se esperava que os membros da Igreja em nível local levantassem os fundos para novos conjuntos de sacramentos, a transição para o sacramento individual foi gradual no início e aconteciam principalmente em alas na área de Salt Lake City.
(…) A transição para copos individuais de sacramento foi acelerada vários anos depois pela epidemia de gripe de 1918. Perto do final da Primeira Guerra Mundial, militares de todo o mundo voltaram para casa e espalharam o que ficou conhecido como gripe espanhola, cujos sintomas incluíam tosse rouca, dor de cabeça intensa, calafrios intensos, manchas marrons grossas nas bochechas e febre alta. A gripe espanhola era altamente contagiosa e a doença acabou matando algo entre 20 e 50 milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo 675 mil americanos – muitos mais do que a própria Primeira Guerra Mundial. A doença efetivamente fechou os Estados Unidos, incluindo o Estado da Colméia. O Conselho de Saúde do Estado de Utah proibiu todas as reuniões públicas, a partir de 11 de outubro de 1918. Cidades inteiras foram colocadas em quarentena. (…) Em 19 de novembro de 1918, Joseph F. Smith, Presidente da Igreja, morreu de pneumonia e, devido à epidemia, nenhum funeral público foi realizado. Heber J. Grant não foi apoiado como Presidente da Igreja até junho de 1919, pois a conferência geral de abril foi adiada por causa da proibição. A epidemia de gripe de 1918 criou um senso de urgência para os santos dos últimos dias fazerem a troca para copos individuais de sacramento.”
Justin Bray, “The Sacrament of the Lord’s Supper and the Influenza Epidemic of 1918”, Church History, 14 de janeiro de 2019

Como a Segunda Guerra Mundial influenciou no progresso da obra da pregação do evangelho no Brasil.
“A ascensão do nazismo na Alemanha também afetou a atividade da Igreja na América do Sul, onde havia grandes colônias de imigrantes alemães. No Brasil, o governo, temendo a ameaça subversiva de simpatizantes do nazismo, baniu o uso do alemão em reuniões públicas e a distribuição de material impresso naquela língua. Durante sua primeira década no Brasil, os missionários Santos dos Últimos Dias haviam trabalhado exclusivamente entre a minoria que falava alemão, por isso a maioria das reuniões dos ramos era realizada naquela língua. Sob pressão do governo, a polícia local até mesmo forçou os santos a entregarem suas escrituras em alemão, que foram queimadas em público. Diante dessa situação ocorrida no final da década de 1930, os missionários direcionaram seu trabalho à maioria de falantes da língua portuguesa, estabelecendo desse modo o alicerce para o grande crescimento da Igreja no país observado nas últimas décadas.”
História da Igreja na Plenitude dos Tempos, Capítulo 40, “Os Santos Durante da Segunda Guerra Mundial”

Como o período conhecido como A Grande Depressão influenciou no estabelecimento do moderno programa de bem-estar da Igreja.
“Poucos eventos externos tiveram tamanha influência no curso da história da Igreja quanto a Grande Depressão da década de 1930. Em 29 de outubro de 1929, conhecida como a Terça-Feira Negra, houve uma queda sem precedentes na bolsa de valores de Nova York, arruinando milhões de investidores. As pessoas pararam de comprar artigos supérfluos e muitos negócios faliram. (…) A Estaca Pioneer, situada numa região ainda menos próspera, foi particularmente atingida pela depressão. Sob a liderança de seu jovem presidente de estaca, Harold B. Lee, um armazém foi suprido de bens produzidos em projetos de serviço da estaca ou doados por membros da Igreja. (…) A Primeira Presidência designou o presidente de estaca Harold B. Lee a introduzir o programa de bem-estar em toda a Igreja. (…) Harold B. Lee e outros líderes da Igreja reuniram-se diversas vezes para elaborar o programa para toda a Igreja.” Os fundamentos do programa instituído pelo Presidente Harold B. Lee (que veio a se tornar um membro do Quórum dos Dize e Presidente da Igreja) são mantidos até hoje, no atual programa de bem-estar da Igreja.
História da Igreja na Plenitude dos Tempos, Capítulo 39, “A Igreja Durante a Grande Depressão”