Seja autossuficiente

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Primeiro, gostaria que pudéssemos compreender claramente o que é autossuficiência, porque é somente com este entendimento e compreensão que vamos conseguir sermos autossuficientes. Não se pode ser verdadeiramente aquilo que não se conhece.

O dicionário define autossuficiência como “a condição do que se basta a si próprio”. Ou, em outras palavras, segundo esta definição, o autossuficiente é aquele que não precisa do outro. Este conceito, se não for bem compreendido, distorce o verdadeiro propósito da autossuficiência.

“Autossuficiência não é um fim em si, mas um meio para um fim.” Presidente Marion G. Romney, A Natureza Celestial da Autossuficiência, A Liahona, março de 2009

Conhecer este fim, este propósito para a autossuficiência, nos ajudará a adquirir a correta visão da busca desta autossuficiência. O Senhor nos mostrou o caminho para compreendermos este propósito, quando explicou o seguinte ao Profeta Joseph Smith:

“Portanto em verdade vos digo que todas as coisas são espirituais para mim e em tempo algum vos dei uma lei que fosse terrena; nem a homem algum nem aos filhos dos homens nem a Adão, vosso pai, a quem criei. Eis que lhe permiti que fosse seu próprio árbitro; e dei-lhe mandamentos, mas nenhum mandamento terreno lhe dei, porque meus mandamentos são espirituais; eles não são naturais nem físicos nem carnais nem sensuais.” D&C 29:34-35

“Pois eis que esta é minha obra e minha glória: Levar a efeito a imortalidade e vida eterna do homem.” Moisés 1:39

Há três princípios muito importantes contidos nestes versículos: Primeiro, o caráter espiritual de todos os mandamentos do Senhor, mesmo daqueles que parecem ser mandamentos terrenos, ou, em outras palavras, mandamentos temporais. Segundo, somos nossos próprios árbitros, porque o Senhor assim permitiu. Terceiro, que o propósito do Senhor – e de todos os seus atos e mandamentos – é levar o homem a alcançar a vida eterna.

Quando compreendemos que o mandamento da autossuficiência não é terreno, ou algo ligado tão somente às questões materiais ou físicas, compreendemos também o grande propósito deste mandamento: tornar o homem capaz de exercer o seu arbítrio pessoal, dado pelo Senhor, a fim de atingir seu objetivo maior: tornar-se um com Deus.

A autossuficiência somente pode ser uma realidade se for plena. Autossuficiência incompleta é um contrassenso.

Alcançar a autossuficiência plena não é algo fácil. Requer foco na visão da eternidade e compreensão de que deve ser dado um passo de cada vez, pois o Senhor nos alertou:

“E vede que todas estas coisas sejam feitas com sabedoria e ordem; porque não se exige que o homem corra mais rapidamente do que suas forças o permitam. E, novamente, é necessário que ele seja diligente, para que assim possa ganhar o galardão; portanto todas as coisas devem ser feitas em ordem.” Mosias 4:27

Talvez tenha sido pensando na necessidade da diligência aliada ao esforço consciente e sábio que foi criada a definição oficial da Igreja para autossuficiência. Estas palavras nos estimulam e confortam:

“Autossuficiência é a capacidade, o compromisso e o esforço de satisfazer as necessidades espirituais e materiais da vida para si próprio e a família.” Manual de Administração da Igreja, Vol. 2, Tópico 6.1.1

Em um mundo cada vez mais dado à indolência, é maravilhoso saber que o Senhor acredita em nossa capacidade pessoal e espera de nós compromisso e esforço para que obtenhamos as bênçãos que Ele tem para nos oferecer. Ao agirmos assim, desejaremos não apenas as promessas materiais, e estas não com o propósito mundano de nos colocarmos acima dos outros. Desejaremos espiritualidade.

“A espiritualidade é a consciência da vitória sobre si mesmo”. Presidente David O. McKay. Gospel Ideals (1953), p. 390

O Presidente Marion G. Romney ensinou:

“A pessoa pode amealhar riquezas e nunca ser obrigada a pedir qualquer auxílio, mas, a menos que essa independência esteja ligada a alguma meta espiritual, isso é capaz de corroer-lhe a alma.” A Natureza Celestial da Autossuficiência, A Liahona, março de 2009

Como sabemos que a nossa busca pela autossuficiência está sendo a nossa busca pela espiritualidade?

Gostaria de abordar três princípios que nos permitem saber qual caminho estamos tomando ao buscarmos a nossa autossuficiência: o caminho do orgulho, ou o caminho da espiritualidade.

1 – O princípio do amor e serviço ao próximo

Disse o Presidente Marion G. Romney:

“Será que percebemos a importância crítica da autossuficiência, quando vista como requisito para o serviço ao próximo, sabendo ainda que servir é a essência da divindade? Sem autossuficiência, não podemos exercer nosso inato desejo de servir. Como é possível doar, se não temos nada? O alimento para o faminto não se tira de prateleiras vazias. Dinheiro para ajudar o necessitado não pode sair de um bolso vazio. Apoio e compreensão não podem vir do emocionalmente carente. O ignorante não pode ensinar. E mais importante que tudo, o espiritualmente fraco não pode dar orientação espiritual.” A Natureza Celestial da Autossuficiência, A Liahona, março de 2009

Temos a tendência a nos considerarmos autossuficientes em pelo menos alguma área. Não sei em que você se considera autossuficiente, porém, peço que considere esta paráfrase que faço das palavras do Presidente Romney: “Como é possível a você não doar, tendo tudo o que o Senhor já lhe deu? Não alimentar o faminto, tendo suas prateleiras abastecidas? Não dispor do seu dinheiro para ajudar o necessitado, se em seu bolso há o suficiente para as suas necessidades e ainda lhe sobra? Não apoiar e compreender as necessidades emocionais do que está ao seu lado, se você é tão seguro de si? Não empregar seu tempo e esforço para ensinar ao outro o que o Senhor, em sua misericórdia, lhe permitiu saber antes? E mais importante que tudo, como é possível a você, sendo espiritualmente forte, não orientar espiritualmente ao seu próximo, por meio de palavras e, principalmente, pelo seu exemplo?”

Irmãos, o amor ao próximo precisa ser praticado. Fazemos isto quando prestamos qualquer tipo de serviço ao próximo. Quando agimos desta forma, podemos saber que estamos trilhando o caminho da espiritualidade.

2 – O princípio da diligência

“Diligência: Esforço constante e corajoso, especialmente para servir ao Senhor e obedecer a sua palavra. Empenho.” Guia Para Estudo das Escrituras.

Como já disse antes, vivemos em um mundo cada vez mais dado à indolência. Muitos desejam receber bênçãos sem esforço. A coragem para enfrentar os desafios tem sido substituída pela preguiça e pela dependência.

“A Igreja não se satisfaz com qualquer sistema que deixe pessoas capazes permanentemente dependentes, insistindo, pelo contrário, que a verdadeira função e finalidade da assistência é ajudar as pessoas a ajudar a si próprias e, assim, a ser livres” Élder Albert E. Bowen, Plano de Bem-Estar da Igreja (curso de estudos de Doutrina do Evangelho, 1946), p. 77

O espírito de dependência pode ser facilmente notado em nossos dias. Esta atitude – ou a falta de atitude – tem sido estimulada por governos, pais e até mesmo por alguns membros da Igreja.

Vejam o que disse o Presidente Marion G. Romney a respeito disso.

Primeiro sobre a indolência estimulada por governos:

“O costume de cobiçar e receber benefícios não merecidos arraigou-se de tal forma em nossa sociedade, que até mesmo homens abastados, donos de meios de produção de riquezas, esperam que o governo lhes garanta lucros. As eleições frequentemente giram em torno daquilo que os candidatos prometem fazer pelos votantes com os fundos do governo. Tal prática, caso seja universalmente aceita e implantada em qualquer sociedade, fará de seus cidadãos escravos. Não podemos dar-nos ao luxo de viver sob a tutela do governo, mesmo que tenhamos direito legal de fazê-lo. Isso requer um sacrifício muito grande do respeito próprio e da independência política, material e espiritual. Em certos países, torna-se muito difícil separar os benefícios merecidos dos imerecidos. Todavia, o princípio é o mesmo em toda parte: devemos procurar ser autossuficientes e não depender dos outros para sustentar-nos.” A Natureza Celestial da Autossuficiência, A Liahona, março de 2009

E sobre a dependência estimulada pelos pais:

“Tememos que muitos pais estejam transformando os filhos em “gaivotas simplórias” com sua permissividade e liberalidade com os recursos familiares. Na verdade, a atuação dos pais, nesse aspecto, pode ser bem mais prejudicial do que qualquer programa do governo.” A Natureza Celestial da Autossuficiência, A Liahona, março de 2009

E quando o problema está entre membros da Igreja:

“Bispos e outros líderes do sacerdócio podem tornar-se culpados de transformar membros da ala em “gaivotas simplórias”. Certos membros tornam-se financeira ou emocionalmente dependentes do bispo. Esmola é esmola, venha de onde vier. Toda ação da Igreja e da família deve visar a autossuficiência de nossos filhos e membros. Nem sempre podemos controlar os programas governamentais, mas temos controle sobre nosso lar e congregação. Se ensinarmos esses princípios e os colocarmos em prática, poderemos minimizar em grande parte os efeitos negativos de eventuais programas governamentais.” A Natureza Celestial da Autossuficiência, A Liahona, março de 2009

Toda esta indolência, permissividade e estímulo à dependência gera pessoas egoístas, egocêntricas, focadas apenas em si mesmas, em sua satisfação pessoal. Pessoas que não acreditam em seu valor pessoal, mas apenas naquilo que elas podem aparentar ser, pelo que podem aparentar ter. Tendem à desobediência e rebeldia.

Lamã e Lemuel são casos clássicos desse tipo de atitude. O Élder D. Todd Christoferson comentou sobre este caso:

“Pela idade, Lamã e Lemuel eram homens, mas em termos de caráter e maturidade espiritual, ainda se comportavam como crianças. Eles murmuravam e reclamavam se lhes fosse pedido qualquer coisa mais difícil. Não aceitavam a autoridade de ninguém para corrigi-los. Não davam valor a coisas espirituais. Facilmente recorriam à violência e eram ótimos em passar-se por vítimas.” Sejamos Homens, A Liahona, outubro de 2006

Sejamos pessoalmente diligentes, esforcemo-nos com constância e coragem para obedecermos ao Senhor e para vencermos os desafios da vida. Quando agimos desta forma, também podemos saber que estamos trilhando o caminho da espiritualidade.

3 – O princípio da conversão

“A conversão é um processo, não um acontecimento isolado. Convertemo-nos como resultado de nossa retidão e nosso empenho em seguir o Salvador.” Sempre Fiéis

A conversão pessoal é um sinal de que o aumento da nossa autossuficiência reflete-se no aumento da nossa espiritualidade. Quando somos convertidos, desejamos empregar nosso tempo, nossos talentos, nossos bens e nosso conhecimento a serviço da causa do Senhor, de Sua obra, de Seus filhos. Não desejamos ter folga das coisas da Igreja e seus afazeres. Ao contrário, desejamos nos envolver ainda mais, aprender ainda mais, fazer ainda mais. Colocamos as coisas de Deus acima das nossas. Consideramos “coisas de Deus” tudo o que envolve Seu Reino e Sua obra, mesmo servir em alguma posição na Igreja, visitar pessoas que precisam de ajuda, ou cuidar do edifício que é o local de reunião e adoração, a capela.

Quando somos convertidos, sabemos que a nossa autossuficiência, seja financeira, emocional, alimentar, educacional ou espiritual, não nos torna, nem por um segundo, independentes de Deus. Compreendemos que nosso intelecto e nossa força não bastam, que não somos mais capazes e mais livres sem o Senhor. Compreendemos o que o mundo não compreende: A felicidade não vem do que possuímos e nem mesmo de quem somos. Compreendemos que a única felicidade possível vem de Deus. Infelizmente, na busca pela autossuficiência, alguns se esquecem desta simples verdade: Ninguém é autossuficiente de Deus. Sempre seremos dependentes Dele.

Talvez haja alguns de nós que não creiam que possam alcançar a sua autossuficiência. Decepções, tristezas e sonhos desfeitos minaram sua autoconfiança. Todos temos desafios, fraquezas, atitudes e sentimentos a corrigir. Escolha agir para vencer os seus desafios pessoais e você já estará no caminho da sua autossuficiência.

Presto o meu testemunho de que A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é literalmente o Reino de Deus nesta Terra, e que, como seus membros, podemos alcançar a condição de autossuficientes em todos os aspectos neste Reino.


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