
O nome e o logo na construção da identidade da Igreja e de seus membros
O objetivo deste artigo é mostrar como o recebimento e estabelecimento do nome de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e seu logo ajudaram a construir a identidade da Igreja e de seus membros. Ao abordar este tema, farei uma análise baseada na visão histórica dos fatos e também como designer, da identidade visual da Igreja e seus eventuais impactos.
O Nome da Igreja
O estabelecimento do nome da Igreja é uma parte significativa do processo do estabelecimento da própria Igreja como organização divina. No Livro de Mórmon, podemos ver que aqueles que testemunharam a visita de Jesus Cristo às Américas desejaram segui-lo e questionaram o próprio Salvador sobre como deveriam ser chamados como Igreja: “Senhor, desejamos que nos digas o nome que devemos dar a esta igreja”.(1) A resposta do Mestre não deixou dúvidas: “Não leram as escrituras, que dizem que deveis tomar sobre vós o nome de Cristo, que é o meu nome? Porque por esse nome sereis chamados no último dia”.(2)
Em nossa dispensação, o próprio Jesus Cristo revelou o nome da Igreja, ao declarar: “Pois assim será a minha igreja chamada nos últimos dias, sim, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias”.(3) Porém, Ele somente revelou este nome em 1838, oito anos após o estabelecimento formal da Igreja. Neste intervalo, a Igreja, ainda pequena e em formação de sua estrutura organizacional e doutrinária, adotou outros dois nomes oficiais, cada um a seu tempo: Inicialmente, “Igreja de Cristo”(4) e, depois, “A Igreja dos Santos dos Últimos Dias”. É importante ressaltar que, em inglês, o nome oficial revelado sofreu uma revisão gramatical em 1851, passando de “The Church of Jesus Christ of Latter Day Saints” para “The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints”.(5) Além disso, o artigo “A” maiúsculo no início do nome da Igreja parece não ter sido utilizado de maneira consistente e contínua até 1966.(6)
Estes nomes foram utilizados em publicações oficiais da Igreja: “Igreja de Cristo” (Livro de Mandamentos, 1833), “A Igreja dos Santos dos Últimos Dias” (Doutrina e Convênios, 1835), “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” – The Church of Jesus Christ of Latter Day Saints, sem hífen na versão em inglês – (Doutrina e Convênios, 1844) e “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” – The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints, com hífen na versão em inglês – (Doutrina e Convênios, 1876).
Além destes, outros nomes não oficiais, mas referenciais, foram utilizados ao longo do tempo: “Igreja de Jesus Cristo”, “Igreja de Deus”, “Igreja de Cristo dos Santos dos Últimos Dias”, “Igreja Mórmon” e “Igreja SUD”. Estes nomes são encontrados em escrituras, atas de reuniões, correspondências entre líderes, além de outros registros históricos. Embora não tenham sido adotados formalmente, foram usados na comunicação da Igreja ao longo das décadas. Às vezes, os nomes oficiais e referenciais eram utilizados juntos em um mesmo documento formal. A primeira edição de Doutrina e Convênios, de 1835, trazia “A Igreja dos Santos dos Últimos Dias” na página de rosto, “A Igreja de Cristo” na Seção 2, versículo 1, da Segunda Parte, e “A Igreja de Cristo dos Santos dos Últimos Dias” no cabeçalho da Seção V.(7)



O reconhecimento adequado do nome da Igreja (interna e externamente) tem sido um processo que perdura desde o início da Restauração até os dias atuais. Tornar o nome revelado conhecido, aceito e aplicado corretamente é uma tarefa também de nossos dias. A declaração feita pelo Presidente Russell M. Nelson, em agosto de 2018, demonstra isso: “Recebi do Senhor uma inspiração referente ao nome que Ele revelou para Sua Igreja, sim, A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Temos a tarefa de nos colocar em harmonia com a Sua vontade. (…)”(8) Na Igreja, aprendemos que a revelação é contínua.(9) Neste caso, a revelação dada ao Presidente Nelson em 2018 não altera – mas reafirma – a revelação anterior, dada ao Presidente Joseph Smith, 180 anos antes.
É interessante observarmos que, mesmo com o esforço para o conhecimento, a aceitação e a aplicação, por parte dos membros e de todos, do nome revelado da Igreja, os aqui chamados nomes referenciais continuam sendo adotados de maneira autorizada, em novas versões. O “Guia de Estilo – Nome da Igreja” da Sala de Imprensa da Igreja orienta: “Quando for necessário utilizar uma referência abreviada, incentivamos a utilização dos termos ‘a Igreja’ ou ‘a Igreja de Jesus Cristo’. O termo ‘a Igreja restaurada de Jesus Cristo’ também é correto e seu uso é incentivado.”(10)
A existência de um período no início do estabelecimento da Igreja no qual um nome revelado ainda não havia sido dado e, mesmo depois disso, ter havido a utilização formal ou informal de outros nomes, não deve ser entendido de outro modo senão como o processo natural de recebimento, compreensão e vivência da vontade do Senhor. Estarmos nos dias finais antes da Segunda Vinda do Salvador Jesus Cristo somente aumenta a nossa responsabilidade de atender à Sua vontade. Para aqueles que talvez julguem este assunto de menor importância no contexto da Restauração do Evangelho de Jesus Cristo e de Sua Igreja, o Presidente Nelson enfatizou: “O que está por trás de um nome? Quando se trata do nome da Igreja do Senhor, a resposta é ‘TUDO!'”.(11)
O Logo
O processo de busca de uma padronização não se deu apenas no nome da Igreja, mas também do seu logo. A Igreja levou quase um século e meio até que uma identidade visual fosse estabelecida para o seu nome. Depois dessa primeira ação, duas modificações já foram estabelecidas, sendo a última delas neste ano de 2020.
Até 1974, os edifícios da Igreja eram identificados de diversas formas, nem sempre com a utilização do nome da Igreja. Quando o nome da Igreja era aplicado, era feito sem qualquer padronização, nem da escrita, nem da forma.
Em vários casos, o nome da ala era afixado na frente da capela, com ou sem a presença do nome da Igreja. Em outros casos, eram feitas apenas as inscrições “LDS” ou “LDS Church”. Fossem com ou sem o nome da Igreja, as inscrições na frente das capelas eram feitas em linha reta, em duas ou três linhas, em forma de arco, na vertical e até mesmo em forma de círculo. O nome da Igreja era, em alguns casos, escrito com o artigo “A” e, em outros casos, sem ele. Maiúsculas e minúsculas também eram utilizadas aparentemente sem muito critério.








A partir de 1975, a Igreja passou a utilizar um logo padronizado. Desenvolvido por Randall Smith(12), que trabalhava à época na área de criação gráfica da Igreja, o logo usava a fonte Baker Signet, que foi projetada em 1965 pelo designer Arthur Baker, com pequenas modificações. Esse tipo de letra foi escolhido por ser considerado adequado para as inscrições nas placas em granito que geralmente estão nas capelas e templos da Igreja.

Em 1995, a Igreja fez a primeira alteração no seu logo. A missão de evidenciar o nome de Jesus Cristo levou os designers a colocarem o nome da Igreja em linhas com o nome de Jesus Cristo ao centro, maior. Ao anunciar esta mudança e a colocação do nome de Jesus Cristo em evidência, Bruce L. Olsen, Diretor Administrativo de Assuntos Públicos da Igreja disse: “Isso enfatiza nossa lealdade ao Senhor Jesus Cristo”.(13)

Nunca foram confirmados os nomes dos profissionais envolvidos, porém, há consenso entre designers de que Adrian Pulfer e McRay Magelby(14) foram os criadores do logo. Eles utilizaram a fonte proprietária Deseret, criada por Jonathan Hoefler. A fonte Deseret foi inspirada em outra fonte, chamada Trajan, que foi originalmente inspirada por uma coluna erguida em Roma no ano 114, em homenagem às vitórias do Imperador Trajano(15) nas campanhas militares contra os dácios. A coluna está de pé até hoje e o formato das letras de suas inscrições inspiraram a criação da fonte Trajan. Esta é uma curiosidade interessante: A fonte em que o nome de Jesus Cristo está escrito ao centro do nome de Sua Igreja, é derivada de uma escrita do Império Romano que O crucificou.


A mudança do logo em 1995 foi necessária. O modelo anterior apresentava dificuldades para ser aplicado em outros idiomas. Com a Igreja em plena expansão mundial, o novo logo resolveu esse desafio. Esta facilidade de aplicação foi evidenciada quando a Igreja informou em 2011 que o logo já havia sido publicado em mais de 100 idiomas.(16)
Em abril deste ano de 2020, durante a Conferência Geral, o Presidente Russell M. Nelson anunciou pessoalmente um novo símbolo da Igreja. Falarei dele adiante. Porém, parte deste símbolo traz uma nova alteração no logo da Igreja. Na versão em inglês, as três linhas foram justificadas, ocupando a mesma largura, criando um bloco retangular. Na versão em português (e em outros idiomas), a disposição das palavras não permite este alinhamento justificado. Para evitar que as letras fiquem muito pequenas, é adotado o padrão de quatro linhas. As letras foram levemente aproximadas umas das outras na horizontal, para ganharem maior verticalidade. Assim, as palavras foram ampliadas. Embora isto tenha ocorrido em todo o texto do logo, a percepção desta alteração se dá mais facilmente nas palavras da linha acima do nome de Jesus Cristo, o que resulta em um destaque maior ao termo IGREJA.

Quadro Comparativo das Logos
Um quadro comparativos dos três logos desenvolvidos por A Igreja de Jesus Cristos dos Santos dos Últimos Dias nos últimos 45 anos mostra claramente a evolução alcançada no caminho escolhido de evidenciar Jesus Cristo como o elemento central da Igreja e ampliar a percepção sobre a Igreja.


O Novo Símbolo
É muito importante diferenciarmos um logo de um símbolo. O logo traz a representação do nome. O símbolo traz a representação da ideia. No caso da Igreja, o logo é composto unicamente pelo nome completo da Igreja, sem qualquer abreviação ou adereço, e representa a Igreja. O símbolo representa o Salvador como o centro da Igreja e seu verdadeiro cabeça.
O novo símbolo possui uma caixa retangular, que envolve o logo, simbolizando “uma pedra de esquina”. Acima da caixa, “encontra-se uma representação da estátua de mármore de Thorvaldsen: o Christus. Ela retrata o Senhor ressuscitado e vivo estendendo os braços para receber todos os que se achegarem a Ele. Simbolicamente, Jesus Cristo está de pé sob um arco. O arco nos relembra o Salvador ressuscitado saindo do túmulo no terceiro dia após Sua Crucificação. (…) O símbolo será agora usado como um identificador visual nos materiais, nas notícias e nos eventos oficiais da Igreja”, disse o Presidente Nelson.(17)

Graficamente, o símbolo é correto e muito bem trabalhado, colocando o Cristo em referência ao nome da Igreja, o que a difere de todas as demais igrejas, pois elas se utilizam de símbolos baseados em traços simplificados como cruzes, estrelas, chamas, peixes, etc. Contudo, o grande nível de detalhamento do desenho da estátua do Christus pode trazer desafios para a utilização em escalas menores, nas quais esses detalhes ficam imperceptíveis, como no rodapé dos sites oficiais, além da questão da utilização em bordados, em relevo, etc.

São usadas duas versões do símbolo: uma em tons de cinza com fundo branco e outra com as letras brancas e o fundo em cores, utilizada para mídias diversas. Esta versão em cores traz o fundo com as variações de luz na parte superior, que enxergo como uma representação da luz projetada na Primeira Visão, vinda do céu. Quando seguimos de baixo para cima, podemos ver a passagem do ponto mais escuro para a luz maior, possivelmente simbolizando nossa jornada em direção à luz perfeita, “revelação sobre revelação”.(18)

Conclusão
Ao apresentar o novo logo e o novo símbolo da Igreja, o Presidente Russell M. Nelson explicou: “Não é uma mudança de nome. Não é a reformulação de uma marca. Não é algo superficial. Não é um capricho. E não é algo insignificante.” E concluiu: “Na verdade, é uma correção. É mandamento do Senhor.”(19)
Nos últimos 180 anos temos sido constantemente lembrados de que o nome “A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias” foi pronunciado da boca do próprio Senhor Jesus Cristo ao Seu Profeta Joseph Smith Jr., como um mandamento para a Igreja e para toda a humanidade.
Embora elementos gráficos nos auxiliem a nos lembrarmos disso e ajudem na divulgação desta verdade a todo o mundo, é em nosso coração – e não apenas em placas fixadas na parede – que o nome revelado da verdadeira Igreja de Jesus Cristo deve estar entalhado, de maneira indelével.
Referências
(1) 3 Néfi 27:3
(2) 3 Néfi 27:5
(3) Doutrina e Convênios 115:4
(4) Doutrina e Convênios 20:1
(5) K. Shane Goodwin, “The History of the Name of the Savior’s Church: A Collaborative and Revelatory Process”, BYU Studies, Journal 58:3
(6) Joseph Smith Papers, Revelations Book 1, página 20
(7) Joseph Smith Papers, Doctrine and Covenants, 1835
(8) Sala de Imprensa Brasil, Declaração Oficial “O Nome da Igreja”, 16 de agosto de 2018
(9) Regras de Fé 1:9
(10) Presidente Russell M. Nelson, “O nome correto da Igreja”, Conferência Geral, outubro de 2018
(11) Presidente Russell M. Nelson, “O nome correto da Igreja”, Conferência Geral, outubro de 2018
(12) Stephen Coles, “LDS Church Logo, 1974–1995”, Fonts in Use, 3 de outubro de 2013
(13) “New Church Logo Announced”, Ensign, outubro de 1996
(14) Brian Collier, “The New Church Logo: a designer’s perspective & analysis”, UX Collective, 5 de abril de 2020
(15) Andrew Curry, “A fabulosa Coluna de Trajano em Roma”, National Geographic Portugal, 30 de abril de 2015
(16) Chelsee Niebergal, “Logotipo da Igreja Publicado em Mais de 100 Idiomas”, Church News, 23 de maio de 2011
(17) Presidente Russell M. Nelson, “Abrir os céus em busca de ajuda”, Conferência Geral, abril de 2020
(18) Doutrina e Convênios 42:61
(19) Presidente Russell M. Nelson, “O nome correto da Igreja”, Conferência Geral, outubro de 2018
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