
O campo já está branco para a ceifa
Enviado por Marcelo de Almeida, de Fortaleza, Ceará
No meu primeiro dia no CTM de São Paulo, escutei uma frase que faria todo o sentido durante minha missão, mas que eu só compreenderia plenamente meses depois, quando eu realmente aprendi o que significa ‘estar a serviço do Senhor’: “Você pode contar as sementes de uma maçã, mas nunca poderá contar as maçãs de uma semente.”
Quando fui transferido para minha terceira área, e com a mudança, o novo desafio de servir como Missionário Sênior, não imaginava as experiências que o Senhor reservara para mim. Eu estava realmente ansioso por conta das novas responsabilidades, mas também animado com a confiança posta sobre meus ombros. Uma nova área, um novo companheiro e muitas dúvidas.
Quando servi na Missão Brasil Londrina, usávamos muito de nosso tempo na busca de novos conversos. O meio mais usado na época, em obediência às regras da missão, era o contato de rua e o ‘bater portas’. Ainda nesta terceira área, a meta era no mínimo 200 contatos semanais e bater 5 portas diariamente. Um trabalho cansativo e não muito produtivo, mas que eu sabia dar algum resultado, por que eu mesmo sou fruto de um contato de rua e ‘bater portas’. Eu também aprendi que, quando fazíamos o nosso melhor, o Senhor nos abençoava com eleitos. Eu acreditava em milagres.
Na segunda semana após a transferência, tive o privilégio de participar de uma Conferência de Zona com o Presidente da Missão, Presidente Hollist. Eu estava realmente disposto a aproveitar ao máximo dos treinamentos e ensinamentos dos Assistentes, mas, em minhas orações, eu pedi que as palavras do Presidente, acalmassem minha mente e meu coração e me ajudassem com minha nova área, meu novo companheiro e em minha busca por novos pesquisadores. Eu queria muito encontrar os eleitos do Senhor e acreditava que somente o Presidente da Missão poderia me ajudar. Talvez ele nos ensinasse um meio mais eficaz de encontrar pessoas para ensinar, além dos contatos e ‘bater portas’. Eu também aprendi que trabalhar com a ajuda dos membros era a melhor opção, mas eu os conhecia tão pouco! Eu não queria esperar até conseguir a confiança dos membros de minha nova Ala, para começar a encontrar os eleitos, eu tinha que começar logo o trabalho! Aquela Conferência de Zona era a minha salvação.
O discurso do Presidente Hollist foi maravilhoso. Ele ensinou sobre o poder da obediência, a ajuda do Espírito Santo ao buscarmos e ensinarmos os filhos de Deus e o milagre da fé que abre portas e corações. Depois de muitas palavras de incentivo, ele então abriu espaço para perguntas e respostas. Era a minha chance. Eu estava com aquela pergunta na ponta da língua há dias: “Como eu posso encontrar os eleitos do Senhor de maneira eficaz?” Mas considerei que aquela pergunta já deveria ter sido feita várias e várias vezes em reuniões como aquela. Eu não queria passar a ideia, para meu Presidente e todos os missionários das zonas presentes, que eu desconhecia minhas responsabilidades, as regras da missão ou o Manual Missionário. Continuei calado. Na entrevista pessoal com o Presidente eu falaria, em particular, sobre minhas preocupações, eu pensei.
Depois de várias perguntas e respostas, Presidente Hollist disse que tinha apenas mais uma coisa a compartilhar, antes de finalizar a conferência, e que se tivéssemos fé e fôssemos obedientes, mesmo nas pequenas coisas, o Senhor efetuaria milagres, pelo menos UM milagre em cada uma de nossas áreas. Aquelas palavras por si só, já começaram a aquecer meu coração, e eu sabia que minhas orações seriam respondidas.
Então, ele nos convidou a abrirmos nossos corações a Deus e mostrarmos o quanto desejávamos ser instrumentos em Suas mãos para encontrar e batizar Seus eleitos. Depois, nos disse que, quando chegássemos em nossas áreas, pegássemos o mapa da área e, em espírito de oração, escolhêssemos duas ou três ruas que considerássemos o local onde o Senhor colocara alguns de seus eleitos, alguém ou alguma família que o Senhor estava preparando o coração para receber o Evangelho Restaurado. Em seguida, nos disse que, à primeira vista, aquele plano parecia muito simples, mas que somente nossa fé e obediência poderia nos levar a fazer aquilo à maneira do Senhor. E por fim prometeu que, se fossemos humildes e obedientes como crianças, o Senhor nos faria saber onde encontrar pessoas preparadas. Nossos contatos de rua e ‘bater portas’ se transformariam em milagres nas próximas semanas.
Confesso que fiquei meio frustrado. Tudo o que eu não queria era bater portas e fazer mais contatos. Meu companheiro, talvez percebendo minha frustração, olhou para mim e disse que talvez estivéssemos fazendo as coisas da maneira errada, e calou-se. Então eu lembrei das palavras de Presidente Hollist e das palavras de minha própria benção patriarcal sobre o serviço no Sacerdócio: “Fazer as coisas à maneira do Senhor!”
Cheguei em casa animado demais para fazer qualquer outra coisa. Destaquei o mapa da área que ficava num quadro de avisos improvisado e pus-me a olhar as ruas e imaginar onde estariam os eleitos que eu e meu companheiro deveríamos encontrar. Eu não conhecia minha nova área, havia bairros que eu sequer andara, desde minha chegada. Depois de deliberarmos um pouco, meu companheiro e eu, escolhemos duas ruas de um novo bairro em construção, não muito distante de nossa casa e da capela. Ajoelhados, oramos ao Senhor, pedindo que nos indicasse o melhor lugar para trabalharmos naquela tarde e noite. Falamos de nosso desejo de servir, agradecemos pelos conselhos de nosso Presidente de Missão e pedimos mais fé para ver os milagres. O sentimento foi muito bom, mas sabíamos que aquilo era só a primeira parte do trabalho. Tínhamos que sair para trabalhar. Tínhamos que confiar que o Espírito Santo nos guiaria. Tínhamos que andar a segunda milha.
Aquela foi uma tarde cansativa, porém cheia de esperanças. Fomos até a rua que previamente havíamos escolhido e sentido que era o lugar. Conversamos com muitas pessoas, batemos algumas portas e realmente chegamos a ensinar duas lições, mas ainda não havíamos encontrado os eleitos. As pessoas que ensinamos pareciam evasivas e até incrédulas. Outros aceitaram uma visita posterior. Mas na nossa mente, aquele era o dia de encontrarmos alguém já pronto para o batismo. Não era essa a promessa de Presidente Hollist?
Anoiteceu, estava frio e o milagre não veio. Meu companheiro estava exausto e sem esperanças. Eu também estava, mas não poderia deixá-lo perceber. Eu era o Sênior, tinha que me manter animado e ser o exemplo. A rua chegara ao fim. Faltavam apenas três casas. Será que nossa fé e nossas orações haviam sido em vão? O que tínhamos feito de errado?
Quando olhei novamente para o fim da rua percebi que havia um campo muito largo. Perguntei a meu companheiro sobre o campo, e ele disse que havia uma plantação ali alguns dias antes de minha chegada, e que, com certeza, haviam colhido. Perguntei a ele se o campo seria preparado para uma nova colheita. Não entendendo minha pergunta, ele apenas respondeu que deveríamos fazer outra coisa, que não adiantava mais continuarmos naquela rua, que poderíamos tentar falar com algum membro da ala ou procurar antigos pesquisadores no Livro da Área.
Exercendo minha última partícula de fé, prometi que bateríamos apenas mais uma porta, e que depois faríamos exatamente como ele estava propondo. Em minha mente, aquela promessa era mais para mim mesmo do que para meu companheiro.
Quando fomos atendidos, eu estava disposto a fazer apenas um contato e marcar um outro dia para ensinarmos, caso nosso convite fosse aceito. O senhor que nos atendeu apareceu sorridente e educado, mas disse que tinha pouco tempo, que a família acabara de jantar e já estavam colocando o filho menor para dormir. Prometi que seria rápido, que apenas deixaríamos uma curta mensagem e faríamos uma breve oração, que tudo não levaria mais que 7 minutos, e que poderíamos marcar outro dia com mais tempo. Eu estava sendo completamente sincero, depois de uma tarde tão cansativa.
Aquela curta visita de 7 minutos se transformou em uma linda lição de um pouco mais de 1 hora. A família que nos recebeu tão bem, nos oferecendo mesmo um pouco do seu alimento, e que até então não estavam dispostos a nos receber naquela noite, começou a se mostrar cada vez mais interessada em nossa mensagem. Eles eram humildes e desejosos de aprender. Tinham dúvidas sinceras sobre passagens da Bíblia, mas reconheciam a mão de Deus em suas vidas. Eles amavam a Deus e oravam a Ele.
Eles aprenderam muito com nossas lições e meu companheiro e eu aprendemos muito com a fé daquela família. Eles passaram por muitos desafios até todos serem batizados um ano depois dessa noite fria. Mas se tornaram exemplos para todos que estavam ao seu redor, fossem membros da ala ou vizinhos e amigos.
Eu não tive o privilégio de batizá-los. Nem os missionários que vieram logo depois de mim e de meu companheiro. Mas todos fomos beneficiados com o trabalho missionário desta família. Muitos de seus amigos e alguns familiares foram ensinados e batizados. Toda as famílias de uma outra rua para qual eles mudaram-se posteriormente receberam os missionários por causa do amor e do exemplo daquela família eleita. Por causa desta família, outros serviram missão, casaram-se no templo e servem na Igreja hoje.
No dia seguinte ao encontro com essa família eleita, começaram a plantar trigo naquele campo ao fim da rua. Durante os quase 4 meses que servi naquela área, vi o trigo crescer, se tornar forte, ficar de um verde brilhante e começar a amarelar e então fui novamente transferido. De uma parte alta da cidade de Londrina, já em minha nova área, podia ver ao longe, quase todos os dias, aquele campo de trigo passar do amarelo dourado para o branco puro e finalmente ser colhido. Isso me encheu de uma alegria que nunca poderei explicar. Aprendi naquela área que o Senhor nos chama para colher, mas outras vezes para plantar e preparar o campo para outros. Que nunca poderemos medir a influência de nossas escolhas nesta vida e na eternidade. Que todos realizamos um trabalho importantíssimo no campo de trigo do Senhor. Que a fé e a obediência, mesmo nas pequenas coisas, produz grandes milagres. Que o desejo de servir a Deus e fazer as coisas à Sua maneira é sabedoria.
Sou imensamente grato pelo privilégio de ter servido uma missão de tempo integral, e ter visto milagres acontecerem na minha vida e na vida daqueles que aprendi a amar e a servir. O campo realmente está sempre branco para a ceifa, pronto para a colheita, nós é que precisamos abrir os olhos e ver como o Senhor vê.