Não seja um ignorante das coisas do Senhor

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Há algum tempo, escrevi um artigo intitulado “O trabalho de salvação da sua alma”(1), no qual listei cinco conselhos que, se seguidos, poderiam ajudar o indivíduo no processo de salvar a sua alma e de contribuir para a salvação das almas dos filhos do Pai Celestial. Hoje, eu gostaria de voltar a um daqueles conselhos, mais especificamente o de número 4: “Não seja um ignorante das coisas do Senhor”.

Naquela mensagem, eu disse o seguinte a este respeito:

“Diante de tantas informações hoje no mundo, eu decidi adotar o sistema de ignorância seletiva: decido aquilo sobre o que eu não quero saber em profundidade. Sobre algumas coisas eu não quero saber nada. Esta atitude me permite ter tempo e disposição para aprender o que de fato me fará progredir pessoal, profissional e espiritualmente.

Contudo, não adoto este sistema para as coisas do evangelho. Do que se ensina na Igreja, seja por meio de discursos, aulas, revistas, livros, e o que mais for, eu desejo aprender tudo e me empenho para isso. Estudo, assisto, pergunto, participo, me envolvo e tomo nota de tudo o que puder. Depois, reviso tudo novamente. Tenho sede, avidez por aprender o evangelho, a doutrina e o programa da Igreja.

Com tristeza, percebo que há muitos que parecem ter decidido viver em ignorância seletiva das coisas do Senhor. Não estudam as escrituras, são meros ouvintes passivos nas aulas que sequer estudaram em casa, não frequentam o Seminário ou o Instituto, não se esforçam para coletar um registro sequer de sua história familiar, não leem um discurso de A Liahona, não estudam as normas que regem seus chamados, não realizam noites familiares, não frequentam as reuniões gerais ou de liderança do sacerdócio, não pagam um dízimo honesto, não contribuem com ofertas, não jejuam, não participam das atividades da ala, não frequentam o Templo e não atendem a uma série de outros requisitos de um membro da Igreja.

Infelizmente, já conheci alguns nesta condição. É como se tivessem ligado o piloto automático e fizessem tudo apenas porque viram outros fazerem ou porque já sabem fazer. Eles estão na Igreja, mas apenas fisicamente. Não conseguem conversar mais do que meia hora sobre o evangelho. Quando muito, falam sobre um ou dois assuntos que adotaram para satisfazerem suas mentes.

Todos temos nossas limitações e o Senhor as conhece muito melhor do que nós mesmos. Ninguém tem que tornar-se um doutor em doutrina do evangelho e nem participar de absolutamente tudo o que existe na Igreja. Não é disto que falo, mas da perigosa atitude de conformação com a mesmice, do evidente desinteresse, da clara apatia espiritual de alguns.”

E concluí este tópico com uma citação do Presidente Dallin H. Oaks:

“Um grande número de nossos membros perdeu de vista as coisas essenciais do evangelho de Jesus Cristo e sofre de uma apatia espiritual.”(2)

Esta apatia a que se refere o Presidente Oaks tem sua raiz na falta de entendimento do evangelho. Esta falta de entendimento é resultado de uma atitude premeditada de desatenção para com o aprendizado do evangelho, cultivada deliberadamente por quem não deseja mesmo compreendê-lo, porque considera muito alto o preço a ser pago, seja pela preguiça de fazer o esforço para o aprendizado, seja pelo temor da responsabilidade que o conhecimento traz. É a ignorância seletiva dos assuntos do evangelho que torna as pessoas ignorantes das coisas do Senhor.

Talvez alguns tenham uma dificuldade natural de aprendizado. Os que se esforçam sinceramente, mas sentem que, por mais que tentem compreender, não conseguem ter um claro entendimento da doutrina e das práticas do evangelho e da Igreja, não devem preocupar-se. O Senhor, em Sua misericórdia, lhes dará o que lhes falta, pois Ele olha para o desejo de nosso coração.

Seja como for, todos responderemos pelo que aprendemos e pelo que deixamos de aprender, quando podíamos tê-lo feito. Assim, para que não sejamos ignorantes das coisas do Senhor por nossa própria vontade (ou por falta dela), e não respondamos pelo pecado da omissão neste assunto, devemos elevar os nossos esforços para o aprendizado do evangelho. Caso não o façamos, correremos o risco de não recebermos a vida eterna que tanto almejamos. Foi o Profeta Joseph Smith quem fez este alerta: “É impossível ao homem ser salvo em ignorância.”(3). E próprio Salvador Jesus Cristo ensinou: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”(4) Logo, a liberdade que tanto buscamos, que é a vida eterna, ou exaltação, só se obtém pelo conhecimento da verdade. Sem o qual, é impossível ser salvo (liberto).

Existe ainda outra atitude perniciosa a este respeito: querer aprender sem esforço. Talvez alguém possa pensar que este é um “mal menor”, mas não é. Talvez seja possível decorar trechos de textos para uma prova na escola, ou ler apenas o resumo de um livro e ainda assim sair-se bem em uma conversa trivial na qual ele seja citado. Mas, no que diz respeito ao conhecimento do evangelho, decorar citações ou ler resumos dos ensinamentos dos profetas não bastam. Também não é possível aprender a doutrina de maneira eficaz apenas memorizando algumas histórias e personagens das escrituras. Quem imagina que, somente por estar por duas horas semanais na Igreja aos domingos, vai chegar ao Reino Celestial, sem realmente estudar e dedicar-se a aprender o evangelho no lar, poderá ter uma desagradável surpresa no dia do julgamento final.

Falando sobre esta atitude, o Élder Tad R. Callister comentou: “Às vezes encontramos pessoas que querem entender as escrituras sem fazer o mínimo esforço — querem que alguém lhes explique as escrituras antes de lê-las. Querem aprender o evangelho com uma série de citações e vídeos interessantes. Querem que o professor da Escola Dominical lhes prepare lições mastigadas e dadas na boca, com pouca participação ou preparação da parte delas.”(5)

Alguém disse que “a pior ambição do ser humano é desejar colher os frutos daquilo que nunca plantou.”(6) Desejar colher os frutos espirituais de uma vida devotada, sem sequer dedicar-se a aprender as coisas do Espírito, seria, realmente, uma ambição sem sentido.

Gostaria de sugerir cinco ações práticas que poderão ajudar na busca eficaz do conhecimento do evangelho.

1 – Visualizem o processo do aprendizado e suas consequências

Élder Kim B. Clark ensinou: “O aprendizado profundo da doutrina de Jesus Cristo é o aprendizado que leva à alegria e deve acontecer à maneira do Senhor. É aprender profundamente, com a toda a alma — com a mente, o coração, o corpo e o espírito imortal. O aprendizado profundo aumenta o poder do aluno para fazer três coisas: Conhecer e entender, (…) Tomar medidas justas e eficazes, (…) Tornar-se mais semelhante ao Pai Celestial.”(7)

Aprender para fazer e fazer para ser é a essência e razão do aprendizado do evangelho. Não podemos nos tornar em quem devemos nos tornar se não fizermos o que devemos fazer. E não é possível fazermos o que devemos fazer, se não aprendermos o que devemos aprender. Jesus Cristo ensinou este princípio com muita clareza, citando a si próprio: “Na verdade, na verdade vos digo que o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma, se não o vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente.”(8) O Filho aprendeu com o Pai e então, pelo que recebeu neste aprendizado, se tornou apto a fazer o que tinha que fazer. Por isso, tornou-se em quem deveria se tornar.

Sigamos a admoestação do Presidente Thomas S. Monson: “Aprendamos o que devemos aprender, façamos o que devemos fazer e sejamos o que devemos ser.”(9)

2 – Deixem as desculpas de lado

Falta de tempo, dificuldade com a leitura, problemas de visão, muitas tarefas a cumprir, são algumas das desculpas que alguns dão para justificar sua falta no estudo diligente do evangelho. Que bênção é saber que o Senhor deu a todos o mesmo número de horas, minutos e segundos a cada dia, e o mesmo número de dias a cada semana, mês e ano. Ainda que cada vez mais pareça que temos mais tarefas e menos tempo para executá-las, todos nós temos o arbítrio para decidirmos como usaremos o nosso tempo.

Usar aqueles 10 minutos que sobraram após o almoço (ou almoçar lendo as escrituras), acordar 15 minutos mais cedo a cada dia (ou dormir 15 minutos mais tarde), aproveitar a viagem no ônibus para a escola ou trabalho (ou a fila lenta no banco), podem ser excelentes momentos para estudar o evangelho, se este é único tempo disponível no dia. Trocar mais um episódio da série favorita pelo estudo do Vem, e Segue-Me ou de um discurso da Conferência Geral mais recente, pode trazer um ganho valioso de aprendizado e, especialmente, a criação de um hábito pessoal ou familiar.

Uma das grandes bênçãos que a tecnologia nos proporciona hoje são as escrituras e outros conteúdos do evangelho em áudio. Se alguém tem dificuldade com a leitura ou está dirigindo no trânsito, pode ainda assim se beneficiar do estudo do evangelho por meio desse recurso. Outra grande ferramenta são os vídeos dos discursos da Conferência Geral, excelente conteúdo para as tardes de domingo, que ajudam consideravelmente no estudo do evangelho.

O Presidente Russell M. Nelson ensinou: “Meus amados irmãos e irmãs, a alegria que sentimos tem pouco a ver com as circunstâncias de nossa vida e tem tudo a ver com o enfoque de nossa vida. Quando o enfoque de nossa vida é o Plano de Salvação (…) e em Jesus Cristo e Seu evangelho, podemos sentir alegria a despeito do que está acontecendo — ou não — em nossa vida. A alegria vem Dele e por causa Dele. Ele é a fonte de toda alegria.”(10)

Que deixemos as desculpas de lado. Sejam quais forem as circunstâncias de nossa vida, o Salvador e Seu evangelho devem ser nossa fonte de alegria e nossa prioridade.

3 – Preparem-se para aprender pelo Espírito

O Élder Tad R. Callister disse: “É responsabilidade não apenas do professor vir preparado, mas também do aluno. Assim como o professor tem a responsabilidade de ensinar pelo Espírito, o aluno também tem a responsabilidade de aprender pelo Espírito.”(11)

Quando o Vem, e Segue-Me foi anunciado, eu disse que um novo modo de ensinar exigiria um novo modo de aprender. Infelizmente, talvez alguns professores e alunos das classes do evangelho ainda não compreenderam isso muito bem. Não é possível achar que o evangelho está sendo ensinado quando tudo o que há, da parte do professor, são o monólogo e a pressa para apresentar todo o conteúdo preparado, com o tolhimento da participação dos alunos. Por outro lado, não é possível achar que o evangelho está sendo aprendido quando tudo o que há, da parte do aluno, são o desleixo em não estudar o conteúdo da aula em casa e a omissão na participação na sala de aula.

O Senhor revelou como deve ser o ensino e o aprendizado do evangelho: “Em verdade vos digo: Aquele que é ordenado por mim e enviado para pregar a palavra da verdade pelo Consolador, no Espírito da verdade, prega-a pelo Espírito da verdade ou de alguma outra forma? E se for de alguma outra forma, não é de Deus. E também, aquele que recebe a palavra da verdade, recebe-a pelo Espírito da verdade ou de alguma outra forma? Se for de alguma outra forma, não é de Deus. Então como é que não podeis compreender e saber que aquele que recebe a palavra pelo Espírito da verdade recebe-a como é pregada pelo Espírito da verdade? Portanto, aquele que prega e aquele que recebe se compreendem um ao outro e ambos são edificados e juntos se regozijam.”(12)

Logo, é impossível haver processo de ensino e aprendizado do evangelho sem o Espírito. O Senhor alertou aos que ensinam: “Se não receberdes o Espírito, não ensinareis.”(13) Parafraseando a escritura, temos a sentença: “Se não receberdes o Espírito, não aprendereis.”

4 – Anotem as impressões do Espírito

O Profeta Joseph Smith alertou os santos: “Se vocês (…) continuarem a discutir questões importantes (…) e deixarem de anotá-las, (…) talvez por negligência em escrever essas coisas quando Deus as revelar para vocês, não as considerando suficientemente valiosas, o Espírito pode Se afastar (…), e ali está, ou estava, um vasto conhecimento, de infinita importância, que agora se perdeu”.(14)

Registrar as impressões, as revelações, as inspirações e os sentimentos que nos vêm quando estudamos as escrituras é algo que pode ser muito valioso para nós e para outras pessoas. O que são as escrituras senão registros pessoais de impressões, revelações, inspirações e sentimentos recebidos da Deidade?

O Presidente Spencer W. Kimball disse: “As pessoas costumam usar a desculpa de que nada de interessante acontece na vida delas ou de que ninguém se interessaria pelo que fizeram. Mas prometo-lhes que se mantiverem diários e registros, certamente serão fonte de grande inspiração para sua família, seus filhos, seus netos e assim por diante, por várias gerações”(15)

Há varias formas de se manter registro. Eu faço registros das minhas impressões espirituais em meu blog e outros lugares. Outros preferem manter um caderno com anotações. Outros utilizam o celular e o aplicativo da Biblioteca do Evangelho para registrar seus sentimentos. Seja como for, registre.

5 – Prestem testemunho

O poder existente no ato de prestar testemunho é incrível! Nenhum conhecimento espiritual é plenamente solidificado na mente e no coração até que ele seja compartilhado com outros. Parece ilógico, mas este é o processo. Quem presta seu testemunho, aumenta-o.

Ao prestar seu testemunho, seja sincero e claro. Expresse seus sentimentos sobre o que o Espírito Santo lhe revelou. Isto terá um efeito fortalecedor sobre você e sobre os que o ouvem.

Evite ser vago e fugir da responsabilidade pessoal de testificar fortemente sobre o que sabe. O Élder M. Russell Ballard disse: “Minha experiência na Igreja faz com que me preocupe com o fato de que muitos dos testemunhos de nossos membros se restringem ao “sou grato por” e “eu amo”, mas bem poucos são capazes de dizer com humildade e sincera clareza: “Eu sei”.”(16)

Busque aprender o evangelho. Apesar das dificuldades, siga em frente, continue! O desejo de aprender aumentará mais e mais e logo chegará a percepção de que o conhecimento se expande e fica mais claro em sua mente. Então, seu coração se encherá de alegria por saber que o conhecimento da verdade lhe trouxe a liberdade!

Referências:

(1) “O trabalho de salvação da sua alma”, Blog Estandarte da Liberdade.
(2) Presidente Dallin H. Oaks, “A Melhor Maneira de Resgatar os Membros É Fortalecer Sua Fé em Cristo”, Conferência Multiestacas de Liderança do Sacerdócio, realizada em Bellevue, Washington.
(3) D&C 131:6.
(4) João 8:32.
(5) Élder Tad R. Callister, “A Alegria do Aprendizado”, A Liahona, outubro de 2016.
(6) Autor desconhecido.
(7) Élder Kim B. Clark, “Aprendizado Profundo e Alegria no Senhor”, Treinamento Anual dos Seminários e Institutos de Religião, 13 de junho de 2017.
(8) João 5:19.
(9) Presidente Thomas S. Monson, “Aprender, Fazer e Ser”, Conferência Geral, outubro de 2008.
(10) Russell M. Nelson, “Alegria e Sobrevivência Espiritual”, A Liahona , novembro de 2016, p. 82.
(11) Élder Tad R. Callister, “A Alegria do Aprendizado”, A Liahona, outubro de 2016.
(12) D&C 50:17-22.
(13) D&C 42:14.
(14) Joseph Smith, History of the Church, vol. 2, p. 199.
(15) Presidente Spencer W. Kimball, “President Kimball Speaks Out on Personal Journals”, New Era, dezembro de 1980, p. 27.
(16) M. Russell Ballard, “Testemunho Puro”, A Liahona, novembro de 2004, p. 41.


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