A mão do convênio

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Em uma reunião virtual do sumo conselho durante a pandemia, comentei em tom de brincadeira com os irmãos que, de acordo com o que eu via na tela, parecia que eu estava levantando a mão esquerda – e não a direita – em sinal de apoio à proposição da presidência da estaca. Isto acontecia porque minha imagem aparecia invertida, como em um espelho, no aplicativo. Logo teve início um breve e interessante debate sobre a questão “mão direita x mão esquerda” nas ordenanças e ritos da Igreja e eu usei, então, a expressão “a mão do convênio” para definir a razão do uso da mão direita. Como tínhamos muitos assuntos a tratar na reunião, aquela conversa não programada não durou mais que dois ou três minutos. Decidi, então, tratar desse tema aqui, com o propósito de, talvez, ajudar a colocar um pouco mais de luz sobre porque a mão direita é a mão do convênio, a mão que simboliza as bênçãos do Senhor para nós.

Tanto nas escrituras como nas ordenanças, certos gestos simbólicos são mencionados ou utilizados, com significados especiais. Muitos desses gestos simbólicos possuem correlação com os convênios que fazemos. Portanto, existe um simbolismo no fato de a mão direita ser referida como “do convênio”. Ao compreendermos isto, teremos uma visão ainda mais ampla das ordenanças e convênios que realizamos.

Estar ao lado direito do Senhor é um símbolo da nossa condição de dignidade em relação aos nossos deveres para com o Senhor. Utilizar a mão do convênio nas ordenanças e ritos do evangelho é um símbolo de nosso entendimento de que estamos ao lado direito do Senhor.

Segundo a parábola das ovelhas e dos bodes, Ele “porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes, à esquerda”1Mateus 25:33. E continuou: “Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; (…) Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos”2Mateus 25:34,41.

Aqueles que fazem e mantém convênios, estarão ao lado direito do Senhor. A direita é um símbolo de convênios realizados e honrados. Falando sobre convênios e sua relação com a mão direita, o rei Benjamin ensinou: “(…) quisera, portanto, que tomásseis sobre vós o nome de Cristo, todos vós que haveis feito convênio com Deus de serdes obedientes até o fim de vossa vida. E acontecerá que aquele que fizer isto se encontrará à mão direita de Deus, porque saberá o nome pelo qual é chamado; porque será chamado pelo nome de Cristo.”3Mosias 5:8-9 E Alma ouviu do próprio Senhor: “Pois eis que esta é a minha igreja; quem quer que seja batizado, será batizado para o arrependimento. E quem quer que recebas, acreditará em meu nome; e a esse eu perdoarei liberalmente. Porque sou eu que tomo sobre mim os pecados do mundo; porque fui eu que criei o homem; e sou eu que concedo, ao que acredita até o fim, um lugar à minha mão direita.”4Mosias 26:22-23

O Presidente Joseph Fielding Smith nos lembrou que “a referência mais antiga que temos da superioridade da mão direita sobre a esquerda, em uma bênção, é encontrada na [passagem da] bênção de Jacó aos seus dois netos, Efraim e Manassés”5Presidente Joseph Fielding Smith, Bruce R. McConkie, Doutrinas de Salvação, volume 3, 1956, pp. 107-108. Quando José levou seus filhos para receberem a bênção das mãos do grande patriarca, ele os colocou diante de seu pai de modo que Manassés, o primogênito, ficou à frente de sua mão direita e Efraim, o mais novo, ficou à frente de sua mão esquerda. Porém, algo muito importante aconteceu, porque, como registrado em Gênesis, “Israel estendeu a sua mão direita, e a pôs sobre a cabeça de Efraim, ainda que fosse o menor, e a sua esquerda sobre a cabeça de Manassés, dirigindo as suas mãos propositadamente, ainda que Manassés fosse o primogênito”6Gênesis 48:13-14. Observe a palavra “propositadamente”. Significa que, ao cruzar as mãos de modo a colocar a mão direita sobre Efraim e a mão esquerda sobre Manassés, Jacó não agiu de modo despretensioso ou equivocado, mas com o objetivo claro de dar a bênção maior ao mais jovem dos irmãos. A mão direita simbolizava esta bênção.

O Presidente Joseph Fielding Smith disse: “Antes, quando Abraão enviou seu servo aos parentes de Abraão para encontrar uma esposa para Isaque, ele fez com que o servo colocasse a mão embaixo da coxa (de Abraão), e jurou a ele que cumpriria sua missão (Gênesis 24:1-9). Evidentemente, essa era a mão direita do servo.”7Presidente Joseph Fielding Smith, Bruce R. McConkie, Doutrinas de Salvação, volume 3, 1956, pp. 107-108 E ele completou: “É costume estender a mão direita em sinal de comunhão (Gálatas 2:9). A mão direita é chamada de destra, e a esquerda, a sinistra; destro significa direita e sinistro significa esquerda. Destro, ou direito, significa favorável ou propício. Sinistro está associado ao mal, e não ao bem, sinistro significa perverso.”8Presidente Joseph Fielding Smith, Bruce R. McConkie, Doutrinas de Salvação, volume 3, 1956, pp. 107-108

Um de nossos hinos mais conhecidos, diz: “Se Deus é convosco, a quem temereis? Ele é vosso Deus, seu auxílio tereis. Se o mundo vos tenta, se o mal faz tremer, Com mão poderosa, Com mão poderosa, Com mão poderosa vos há de suster.”9Que Firme Alicerce, Hinos, 42 Se verificarmos as escrituras de referência no rodapé deste hino, encontraremos Isaías 41:10, que traz a palavra do Senhor ao Seu povo: “Não temas, porque eu estou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça.”10Isaías 41:10 A destra da justiça do Senhor é a mão poderosa que louvamos no hino.

Em quase todas as ordenanças, utilizamos apenas o braço ou a mão direita. “O costume, evidentemente por orientação divina, desde os primórdios, tem sido associar a mão direita com prestar juramentos e com testemunhar ou reconhecer obrigações. A mão direita foi usada, preferencialmente à mão esquerda, ao oficiar em ordenanças sagradas, nas quais apenas uma mão é usada”11Presidente Joseph Fielding Smith, Bruce R. McConkie, Doutrinas de Salvação, volume 3, 1956, pp. 107-108, disse o Presidente Joseph Fielding Smith.

Por exemplo, o Manual Geral da Igreja ensina que, quando um batismo é realizado, o portador do sacerdócio que realiza a ordenança “ergue o braço direito em ângulo reto”12Manual Geral: Servir em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 18.7.7. A mesma mão direita é utilizada em certas ordenanças templárias, tanto para vivos como para falecidos.

Mesmo em certas ordenanças nas quais se utilizam as duas mãos, podemos observar uma particularidade sobre a mão direita. Por exemplo, quando ordenações ao sacerdócio ou bênçãos do sacerdócio são ministradas por vários portadores do sacerdócio, estes devem colocar apenas a mão direita sobre a cabeça da pessoa – ou sob um bebê – “e a mão esquerda no ombro do irmão à sua esquerda”13Manual Geral: Servir em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 18.3.

No voto de apoio, também o braço direito está presente. Embora isto não esteja determinado em qualquer norma escrita, é o braço direito que erguemos quando apoiamos alguém para receber um chamado ou o sacerdócio, ou para renovarmos esse apoio em conferências de ala, estaca ou geral. O Élder David B. Haight, afirmou que “(…) erguemos a mão direita para apoiar os líderes da Igreja (…) com o braço em ângulo reto”14Élder David B. Haight, Fé, Devoção e Gratidão, Conferência Geral de Abril de 2000. E o Presidente N. Eldon Tanner disse: “Os que votam em apoio levantam seus braços direitos em ângulo reto, como testemunho de que apoiam os oficiais nos quais votam.”15Presidente N. Eldon Tanner, A Assembleia Solene, Conferência Geral de Abril de 1974

Em 2008, o Élder Robert D. Hales ensinou: “Assim como vocês, agradeço por ter participado da assembléia solene. Gostaria, no entanto, de compartilhar um ponto doutrinário a respeito. Quando erguemos nossas mãos em ângulo reto na assembléia solene, não só demos nosso apoio, mas hipotecamos um compromisso pessoal e particular, um convênio, de apoiar e defender as leis, ordenanças, mandamentos e o Profeta de Deus, o Presidente Thomas S. Monson. Foi um privilégio participar junto com vocês e erguer a mão direita em apoio.”16Élder Robert D. Hales, Obter um Testemunho de Deus, o Pai, de Seu Filho Jesus Cristo e do Espírito Santo, Conferência Geral de Abril de 2008 (Tradução livre do original em inglês. A tradução … Continue reading

Especialmente no sacramento, é com a mão direita que o diácono serve e é com a mão direita que os membros tomam os emblemas sagrados do pão e da água. “Tomamos o sacramento com a mão direita”, ensinou o Presidente Joseph Fielding Smith.17Presidente Joseph Fielding Smith, Bruce R. McConkie, Doutrinas de Salvação, volume 3, 1956, pp. 107-108

O Presidente Russell M. Nelson explicou o contexto doutrinário da relação entre a mão direita e o sacramento. Ele disse:

“Quando Raquel estava morrendo de dor no parto, ela deu ao seu novo filho o nome de Benoni, que em hebraico significa ‘filho da minha tristeza’ ou ‘angústia’. Mas o marido enlutado, Jacó (Israel), mudou o nome do filho recém-nascido, talvez para evitar uma referência repetida à sua luta e morte cada vez que o nome do filho fosse pronunciado. O nome que ele escolheu foi Benjamin, que em hebraico significa ‘filho da mão direita’ (Ver Gênesis 35:16–19). O grande amor de Israel por sua amada Raquel foi significado por essa designação especial dada a Benjamin, seu décimo segundo filho.

(…) Em latim, destro (à direita) e sinistro (à esquerda) não apenas indicavam a direita e a esquerda, mas tornaram-se as raízes dos adjetivos com conotações favoráveis e desfavoráveis. O uso da mão direita como gesto simbólico foi estendido à administração de juramentos governamentais e ao tribunal, quando testemunhas são chamadas para testemunhar sob juramento. Com esse pano de fundo, podemos agora focar na questão de qual mão usar ao participar do sacramento.

A palavra sacramento vem de duas raízes latinas: sacr significa ‘sagrada’ e ment significa ‘mente’. Implica pensamentos sagrados da mente. (…) Ainda mais convincente é a palavra latina sacramentum, que literalmente significa ‘juramento ou obrigação solene’. A participação no sacramento pode, portanto, ser encarada como uma renovação pelo juramento do convênio previamente feito nas águas do batismo. É um momento mental sagrado, incluindo (1) um juramento silencioso manifestado pelo uso da mão, símbolo do convênio do indivíduo, e (2) pelo uso de pão e água, símbolo do grande sacrifício expiatório do Salvador do mundo.

A mão usada para participar do sacramento seria logicamente a mesma mão usada para fazer qualquer outro juramento sagrado. Para a maioria de nós, essa seria a mão direita. No entanto, os convênios sacramentais – e outros convênios eternos – podem ser e são feitos por aqueles que perderam o uso da mão direita ou que não têm mãos. Muito mais importante do que a preocupação sobre qual mão é usada na participação do sacramento é que o sacramento seja tomado com uma realização profunda do sacrifício expiatório que o sacramento representa.

Às vezes, os pais se preocupam com a mão que seus filhos usam para participar do sacramento. Como meio de educação, preparação e treinamento, às crianças não batizadas na Igreja é oferecido o sacramento ‘para prefigurar o convênio que assumirão quando chegarem nos anos de prestação de contas’ (Bruce R. McConkie, Mormon Doctrine, 2ª ed., Salt Lake City: Bookcraft, 1966, p. 660). Portanto, é muito importante que eles desenvolvam um bom sentimento e uma atitude mental sagrada sobre o simbolismo e o significado do sacramento. Os pais que desejam ensinar a importância dessa experiência sagrada podem tornar o assunto parte da instrução da noite familiar. Então, se um lembrete se tornar necessário em uma reunião, ele poderá ser feito em silêncio, com paciência e amor.

Participar do sacramento é um processo mental sagrado e, como tal, torna-se muito pessoal para mim. Penso nos convênios feitos entre mim e a Deidade quando as orações são pronunciadas. Penso em Deus oferecendo Seu Filho Unigênito. Penso no sacrifício expiatório de meu Salvador, Jesus Cristo. O sacramento foi instituído por Ele. Para toda a humanidade, mesmo a mim, ele ofereceu Sua carne e sangue e designou o pão e a água como emblemas simbólicos. Por ter a mão direita, ofereço-a ao participar do sacramento e como juramento de que sempre lembrarei de Seu sacrifício expiatório, levarei Seu nome sobre mim e lembrarei Dele, e guardarei os mandamentos de Deus. Este é um privilégio sagrado para todos os Santos fiéis a cada Dia do Senhor.”18Presidente Russell M. Nelson, “I Have a Question; Is it necessary to take the sacrament with one’s right hand? Does it really make any difference which hand is used?”, Ensign, março de 1983

O Manual Geral da Igreja, atualizado sob a liderança do Presidente Russell M. Nelson, traz uma declaração clara sobre o uso da mão direita no sacramento: “Se possível, os membros usam a mão direita para pegar o pão.”19Manual Geral: Servir em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 18.9.4

Não importa se alguém é canhoto ou destro, quando a mão direita é utilizável, ela deve ser usada nas ordenanças sagradas. É importante que todos aprendam e saibam que há uma “mão do convênio”, que simboliza nossa relação de fidelidade para com o Senhor. Talvez alguns questionem: “Que diferença faz a mão que eu uso nas ordenanças – incluindo o sacramento?” E talvez outros racionalizem: “O que importa é que eu acredite na importância dos convênios, não importa a mão que eu use!” Bem, é tudo uma questão de estarmos dispostos a fazer as coisas como elas devem ser feitas – ou não. Quando temos o conhecimento, é esperado que nossas ações estejam de acordo com esse conhecimento.

No Apocalipse, lemos: “(…) ele pôs sobre mim a sua destra, dizendo-me: Não temas”20Apocalipse 1:17 Esta escritura fala do Salvador Jesus Cristo. A destra citada neste versículo é a “mão do convênio e símbolo de [Seu] poder”21Manual do Aluno do Instituto – Novo Testamento, Cursos de Religião 211–21.

Que tenhamos o desejo de aprender sobre as questões doutrinárias que envolvem os muitos símbolos do evangelho de Jesus Cristo, mesmo os símbolos que estão em nosso corpo. A nossa mão, o nosso braço, a nossa mente e o nosso coração são exemplos destes símbolos sagrados aos quais devemos honrar. A “mão do convênio”, em especial, nos lembra do grande amor que nosso Pai Celestial e Seu filho Jesus Cristo, têm por nós, ao nos permitirem fazermos convênios sagrados que poderão nos levar à Sua presença, em glória eterna.

Referências
Referências
1 Mateus 25:33
2 Mateus 25:34,41
3 Mosias 5:8-9
4 Mosias 26:22-23
5 Presidente Joseph Fielding Smith, Bruce R. McConkie, Doutrinas de Salvação, volume 3, 1956, pp. 107-108
6 Gênesis 48:13-14
7 Presidente Joseph Fielding Smith, Bruce R. McConkie, Doutrinas de Salvação, volume 3, 1956, pp. 107-108
8 Presidente Joseph Fielding Smith, Bruce R. McConkie, Doutrinas de Salvação, volume 3, 1956, pp. 107-108
9 Que Firme Alicerce, Hinos, 42
10 Isaías 41:10
11 Presidente Joseph Fielding Smith, Bruce R. McConkie, Doutrinas de Salvação, volume 3, 1956, pp. 107-108
12 Manual Geral: Servir em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 18.7.7
13 Manual Geral: Servir em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 18.3
14 Élder David B. Haight, Fé, Devoção e Gratidão, Conferência Geral de Abril de 2000
15 Presidente N. Eldon Tanner, A Assembleia Solene, Conferência Geral de Abril de 1974
16 Élder Robert D. Hales, Obter um Testemunho de Deus, o Pai, de Seu Filho Jesus Cristo e do Espírito Santo, Conferência Geral de Abril de 2008 (Tradução livre do original em inglês. A tradução oficial para o português traz a frase “erguer o braço em apoio” traduzida do original “raising my right hand to the square”)
17 Presidente Joseph Fielding Smith, Bruce R. McConkie, Doutrinas de Salvação, volume 3, 1956, pp. 107-108
18 Presidente Russell M. Nelson, “I Have a Question; Is it necessary to take the sacrament with one’s right hand? Does it really make any difference which hand is used?”, Ensign, março de 1983
19 Manual Geral: Servir em A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, 18.9.4
20 Apocalipse 1:17
21 Manual do Aluno do Instituto – Novo Testamento, Cursos de Religião 211–21

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